quarta-feira, 15 de agosto de 2018

HISTÓRIA DA COMUNIDADE VASSOURINHA

Sônia Rodrigues Almeida

Vassourinha é uma comunidade rural localizada a sudoeste da sede do município de Manoel Vitorino, Bahia. A origem do nome Vassourinha está relacionado a uma planta nativa, que como o próprio nome já diz era bastante usado como vassoura pelos habitantes. Segundo José Gonsalves, de 86 anos, esse nome foi dado pelos antigos moradores. Na comunidade tinha-se a cultura de construírem extensos terreiros de terra batida próximos as casas e estes acabavam sendo usados pelos animais, principalmente pelas vacas como local para dormir ou passar a noite, dessa forma os terreiros ficavam forrados de dejetos e naquela época a única vassoura que conseguia resistir e empurrar o esterco eram os feitos com a vassourinha. Esse fato, de acordo com Seu José Gonçalves, foi crucial para os moradores adotarem o nome vassourinha.

Foto 1. Planta conhecida popularmente como Vassourinha, Vassourinha Curraleira, malvinha, relógio (Sida acuta), que deu origem ao nome da comunidade Vassourinha em Manoel Vitorino, Bahia.
Foto: Reprodução
A comunidade de Vassourinha surgiu por volta do ano 1920, quando “Martile Gonçalves Sampaio”, que também é avô de Sônia Rodrigues, autora da pesquisa, veio morar onde hoje é a comunidade. Os primeiros moradores eram membros das famílias Gonsalves Sampaio, Venâncio Sampaio e Rodrigues Sampaio.
Conta o senhor José Gonçalves que essa época foi um tempo de muitas dificuldades onde tudo era de uma grande simplicidade e com muitas regras. Segundo seu José a realidade daquele tempo era muito diferente do que vivemos hoje em dia.
Segundo Sr. José, naquele tempo o povo vivia do que plantava. A mamona era considerada “o dinheiro” da época, vendiam e em troca obtinham mantimentos que não eram produzidos na sua propriedade, como tecidos, sal e outros materiais básicos para no sustento da família. A comida vinha da roça onde tinham plantações de lavouras, lá colhia arroz, feijão, mandioca, milho, batata doce e abóbora, que na época era de fartura. Na comunidade ainda tem uma casa de farinha era usada para fazer beijus e tirar goma, hoje está desativada por falta de mandioca. Na comunidade têm criação de gado, cabra, galinha, porcos e peru. Encontra-se também várias frutas nativas como podemos destacar o Umbu e o licuri.
Imagem 1: Cartografia da comunidade de Vassourinha, Manoel Vitorino, Bahia.
Fonte: arquivo do estágio/Sônia Rodrigues, 2018.

Nesse percurso, vários acontecimentos marcaram a história da comunidade, em conversa com moradores alguns fatos foram mencionados por mais de uma vez, nesse caso, podemos destacar um grande eclipse solar, onde segundo algumas pessoas luz nenhuma clareava o ambiente. Além desse eclipse aconteceram alguns eclipses lunares causando prejuízos nas plantações. Destaca-se também a ocorrência de algumas tempestades como a que ocorreu no ano de 1985, onde parte da comunidade ficou ilhada, onde os moradores não conseguiam sair de casa.
Naquela época existiam poucas estradas ligando a comunidade a outras localidades, usavam-se como transporte os cavalos e jegues, estes conseguia transitar mais facilmente pelas trilhas conhecido localmente como carreiros, comuns naquele tempo. Essa dificuldade aumentava com a chegada do período chuvoso, pois as tempestades alagavam partes da comunidade, além de muitas vezes tornar a travessia dos pequenos riachos uma aventura perigosa. A luz era de lamparina ou candeeiro. Quando alguma pessoa que ficava doente era tratada com ervas medicinais ou iam à cidade consultar um farmacêutico para medicá-lo. Os partos, por exemplo, eram feitos por parteiras muito comum nas comunidades.
Os moradores ainda mantêm algumas tradições como a festa junina, considerada a festa mais tradicional da comunidade, o natal, semana santa, festa de Santo Reis. Hoje não tem mais o pau-de-sebo, evento cultural que acontecia no período das festas juninas e acabou quebrando a tradição. Outra tradição cristã bastante presente na comunidade é a semana santa, e que ainda se preserva igual aos tempos passados, nessa ocasião as pessoas vão nas casas dos padrinhos pedir benção, levar alguns presentes. Ao final desse período tinham-se na comunidade o costume de fazer um boneco de pano, vestir roupa e depois queima-lo no sábado de páscoa, essa tradição era dado o nome de judas, o que traiu jesus, hoje não existe mais.

Meu lugar na história, Sônia Rodrigues Almeida...

Minha infância foi muito boa, brincava muito, adorava brincar de cantiga de roda, pular amarelinha, pular corda, de casinha fazendo comidinhas. Meu pai trabalhava na roça plantando lavouras tipo: milho, feijão, melancia, mandioca. Tínhamos algumas vacas, porcos, galinhas e perus, o leite era tirado e dividido com as pessoas da comunidade.
Agora tudo está melhor, houve muitas conquistas na nossa comunidade, como por exemplo: a energia elétrica, água encanada, cisternas em todas as casas, os caminhões pipas trazem água para a comunidade, transporte escolar, internet, temos também a associação que fundamos em 11 de junho de 2011. Agora estamos construindo a sede da associação para que possamos trazer cursos para a nossa comunidade, era para a nossa comunidade está bem mais evoluída, mas muitas pessoas saíram para são Paulo em busca de trabalho.

Segunda publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade de Vassourinha. Pesquisa desenvolvida Sônia Rodrigues Almeida, estudante do terceiro ano do ensino médio.


As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

Um comentário: