segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A HISTÓRICA COMUNIDADE DO RECREIO


Oitava publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história do Recreio. O texto mostra a grande história da comunidade que foi um ponto de parada para tropeiros durante o século XIX até meados do século XX.


Lívia Rodrigues Sampaio
Stefani Rocha Lira
Gabriela Cardoso de Lira A.
Simão Matias Souza

Situada a cerca de trinta quilômetros da sede do município de Manoel Vitorino a comunidade do Recreio traz consigo uma grande história. Assim como a referida cidade, a comunidade do Recreio teve origem a partir dos tropeiros, fato que também influenciou a origem do nome que inicialmente era Recreio dos Viajantes, por conta do local ser um pouso, ponto de parada e descanso dos tropeiros. Os primeiros moradores do Recreio foram o senhor Aprígio e sua esposa Angélica, estes vieram de um lugar conhecido como “Lagoinha”, depois veio outras famílias e a segunda mais velha é a dos irmãos José Estevo e Manoel Estevo. Vale ressaltar que inicialmente a comunidade não tinha muitos moradores fixos, pois grande parte deles eram comerciantes e não ficavam muito tempo no lugar. 

Foto: Igreja Nossa Senhora Aparecida, localizada na parte alta da comunidade do Recreio.
Imagem: Silvino Lopes

O tropeirismo teve grande importância no processo de ocupação e comércio, principalmente do gado de corte, em todo o Sertão da Ressaca até os anos 50 quando perdeu importância após a implantação das rodovias. Nesse contexto, a comunidade do Recreio foi fortemente influenciada por esses fatores, quando teve seu apogeu nesse período. Há cerca de 90 anos atrás existia na comunidade uma delegacia, cuidada por inspetor e um escrivão, padaria e armazéns onde comerciantes que vinham de longe vendiam tecidos, feijão, farinha, rapadura e toucinho, etc. mas com o declínio desse tipo de transporte os comerciantes foram embora e levaram seus comércios.
Dona Maria, relata que os moradores mais antigos diziam que era muitos tropeiros. Os viajantes vinham de outros lugares, saiam com suas mercadorias em burros, carros de boi viajavam para longe, ficavam dias e meses para conseguir vende-las. Naquele tempo o Recreio era um lugar tranquilo com muito mato e poucas casas, era uma ali outra lá mais distante.

Imagem 1: Cartografia da comunidade do Recreio, Manoel Vitorino Bahia.
Fonte: arquivo do estágio/Simão Santos, 2018.

A primeira igreja da comunidade foi construída a cerca de 120 anos pelo senhor José Epifânio e sua esposa Maria Antônia, juntos com outros moradores da comunidade, tem como padroeiro São João Batista. Nesse tempo era muito raro ter missa, as vezes levava anos para ter uma missa, pois era difícil para o padre se deslocar da cidade de Boa Nova para vir celebrar missa, tinha que ser a cavalo. para fazer um casamento tinha que deslocar a cavalo para comunicar-se com o padre par ele poder vir celebrar.
As poucas casas que tinham eram muito simples feitas de barro enchimento como diziam e cobertas de palha, daí foi aumentando com o passar dos anos. Com o passar dos anos foram surgindo mais casas e aumentando o número de moradores. Não tinha energia elétrica era candeeiro ou lampiões, as panelas e pratos eram de barro, tinha que buscar água na cabeça em potes de barro, as camas de vara e colchões de palha de bananeira. Nas épocas de seca tinha que ir esperar água minar, fazia fila uns vinham a noite e amanhecia o dia esperando na fila para que todos enchesse suas vasilhas. Naqueles tempos também não tinha energia elétrica, as pessoas usavam candeeiro e velas para iluminar suas casas.
TRADIÇÕES
Antigamente na comunidade as festas eram com tocadores de sanfona, violão, pandeiro e tambor ou caixa como diziam as pessoas dançavam até o amanhecer, principalmente em festas juninas, as mulheres se arrumavam todas com seus vestidos rodados e longos, os homens com seus ternos, as festas eram em casas de amigos. Existiam também as festas de Santo Reis, que eram comandadas por Florisvaldo e José Brito, os festejos iniciavam no dia primeiro de janeiro e terminava no dia seis de janeiro.
Namoro de antigamente
De acordo com algumas pessoas mais velhas o namoro de antigamente era um de lá e outro de cá, só se olhava de longe. Em alguns casos eram alguns pais que escolhia o noivo para os seus filhos e tinha que se casar com aquele ou aquela que seus pais escolheram. Tinham que respeitar a vontade de seus pais, querendo ou não eram obrigados a se casar. Quando o noivo queria ver sua noiva tinha que ir até a casa com a presença de seu pai, não tinha beijo, nem abraço ficava ali conversando com seu pai e ficavam se olhando só de longe, um de lá e outro de cá, nem beijo nem abraço, quando saia que beijava na mão da noiva ou namorada. E quando se casava dava um beijo na testa da noiva. Podemos observar que a comunidade, assim como todo o município de Manoel Vitorino tem fortes raízes de uma cultura patriarcal, onde os pais e chefes de família tinha e até hoje tem um certo poder de subjugar principalmente as mulheres aos seus interesses.

Imagem 2: Cartografia social da comunidade do Recreio, Manoel Vitorino, Bahia. Turma 3º ano vespertino.
Fonte: arquivo do estágio/Lívia Sampaio, Stefani Lira e Gabriela Lira, 2018.
A comunidade também tem suas tradições, tal como a construção anual do pavilhão para as festas juninas, a festa da cavalgada, a festa de nossa senhora aparecida, a festa de reis e o jogo bola de pau. Mas há algumas tradições que se enfraqueceu com o tempo e que não são mais praticadas, tais como, a marcha de 07 de setembro, a tradição do bumba meu boi, pau de sebo, e a feira, que era a mais antiga da região além das quermesses juninas.
A ESCOLA
Antigamente não existia escola, as professoras davam aulas em casas cedidas pelos moradores. Poucas crianças iam as aulas nesse tempo, pois grande parte dos pais não deixavam estudar porque eles tinham que ir as roças ajuda-los no trabalho. As primeiras professoras se chamavam Madalena e Elisabeth e o professor Manoel Obídio. para estudar naquele tempo não tinha idade certa era quem queria aprender, era crianças pequenas outras já maiorzinhas outras os pais não deixavam, tinha que ir trabalhar na roça.
Ao passar dos anos construiu uma pequena escola, por volta do ano 1964, esta não tinha carteiras, os estudantes sentavam em bancos de madeira ou até mesmo no chão, pois não dava para todos sentar. A escola recebeu o nome de Jorge Vaz, por que esse homem era um representante do Recreio, ele sempre estava envolvido em tudo que acontecia, desde as novenas nos festejos em comemoração ao padroeiro até as festas juninas.
MAIORES ACONTECIMENTOS
O maior acontecimento da comunidade foi a enchente de 1914 que matou muitos animais e matou três crianças, além de destruir uma das obras mais antigas da comunidade, um açude construído por seu Aprígio utilizando madeira e terra no local conhecido como Lagoa Grande. Algumas pessoas mais velhas disseram que já teve uma ocasião de cair neve por dois dias. No ano de 1998 teve uma geada que matou muitos animais.
MUDANÇAS
Com o passar dos anos a comunidade passou por algumas transformações. No ano 2000 com o surgimento da energia elétrica mudaram bastante coisas, as festas mais iluminadas, som, a escola também cresceu. Hoje tem mercados, poço artesiano, água encanada, três igrejas duas novas e uma antiga, todas as crianças estão na escola desde os quatro anos de idade, todos os meses tem missa que antes não tinha. O padre vem de carro, não de cavalo como antes, quase todos tem carros ou moto para se deslocar a outros lugares, casas mais modernas, todos tem televisão, rádio e várias outras tecnologias como telefone, internet etc. também tem um pequeno campo de futebol.
Enfim, nesse recorte histórico que objetivou-se trazer aqui podemos observar que a comunidade atravessou vários períodos históricos, e nesse processo ocorreram grandes transformações políticas, sociais e econômicas que mudaram drasticamente o modo de vida e a cultura do lugar. Nesse processo, esperamos aqui poder ter contribuído na manutenção de parte da memória histórica da comunidade do Recreio.

As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

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