Foto: Paulo Oliveira. |
Guigó é o nome de uma árvore medicinal africana, do estado insular de São Tomé e Príncipe, colônia portuguesa entre 1470 e 1975. Designa ainda uma espécie brasileira de macaco, descrita em 1999, ameaçada de extinção por causa do desmatamento da Mata Atlântica.
Guigó também é o nome de uma fazenda, construída
estrategicamente a 930 metros de altura, no ponto mais alto do distrito de
Catingal, em Manoel Vitorino (BA), onde os conflitos por disputa de terras eram
intensos, escravos fugidos buscavam refúgio e cangaceiros agiam.
Coronel Nonô mudou para a fazenda Guigó em 1914, foto: reprodução |
O local pertence à família Meira há mais de um século, faz
parte de um cenário fabuloso e é conhecida por seus muros de pedras,
construídos por escravizados. Apesar de sua importância histórica, a fazenda,
erguida na segunda metade do século XVIII, provavelmente em 1890, é
desconhecida até mesmo para a maioria dos moradores da região.
Yuri Rocha Meira Magalhães, tataraneto do coronel Nonô,
historiador da família e morador em Poções (BA), nos passou informações
baseadas em documentos e em relatos orais dos descendentes de Martiniano Meira
Castro, o coronel Nonô, tenente-coronel da 66ª brigada e comandante do 131º
batalhão de cavalaria do Exército, e Elisia de Vasconcelos Meira, a Sinhazinha,
prima e esposa do militar.
Casa grande da fazenda Guigó, em 1952, esta foto está na sala principal do imóvel. Reproduçãõ |
Nonô, nasceu em 1860 e foi criado na Fazenda Serra Talhada,
hoje em ruínas. Após o casamento com Sinhazinha, em 1884, mudou-se para a
Fazenda Paraíso, no município de Mirante, onde permaneceu até 1914, quando a
propriedade foi vendia para um grupo de ingleses, liderados por Edgard
Messeder, interessado em explorar látex de maniçoba. A negociação fez o casal e
seus filhos se mudarem para a Fazenda Guigó, onde o militar morreu em 1928.
Dona Sinhazinha faleceu 21 anos, em Jequié, na casa da filha Vinda.
Os Meira, descendente de portugueses que se fixaram no
Brasil no século XVIII e fundaram a cidade de Brumado (BA) e a vila de
Catingal, eram os maiores proprietários de escravos da região, principalmente o
major Martiniano de Souza Meira, pai de Nonô. Também teriam sido eles que
expulsaram grupos de cangaço que ocuparam Catingal por longo período. Yuri nega
esta informação, dizendo que os antepassados eram mediadores e não violentos
Fernando Souza Meira, um dos donos da fazenda Guigó. Foto: Paulo Oliveira. |
Hoje a fazenda Guigó pertence a neta de Nonô, Carmélia
Vasconcelos, ao marido dela Francisco Novaes Machado, a um filho do casal e ao
genro Fernando de Souza Meira, 46 anos, criadores de gado leiteiro e de corte.
CENÁRIO CINEMATOGRÁFICO
A beleza da Fazenda Guigó impressiona. Poucos metros depois
da porteira, do lado direito, há um dos muros de pedras que teriam sido
construídos pelos escravizados à serviço de Nonô e Sinhazinha. O casal, segundo
informações, chegou a ter 80 escravos
As árvores, vegetação e reservatórios de água construídos
nas pedras impressionam. No entanto, a casa grande sofreu muitas alterações: as
telhas de barro de um terço do telhado foram trocadas por amianto;
internamente, o teto foi rebaixado, pois segundo Fernando Meira, no local fazia
muito frio, principalmente em junho; a cozinha foi modernizada; fotos antigas da
propriedade revelam que as grades, portão de madeira e colunas originais foram
retiradas da varanda na entrada do imóvel.
Os vestígios de opulência do passado são poucos. Na sala,
penduradas ao lado de um cravinote (arma antiga, carregada pela boca com pólvora
e chumbo de grosso calibre) estão os estribos, que seriam de prata, de um
silhão (sela grande usada por mulheres que cavalgavam de saia).
Fernando Meira reclama que a propriedade “dá trabalho
demais” e que tem dificuldade para encontrar funcionários. Sua esperança é
explorar turismo histórico no local. No entanto, se queixa da falta de apoio da
prefeitura de Manoel Vitorino.
“O prefeito atual veio, tirou fotos, achou bonito, mas não
fez nada. Para manter a fazenda é preciso dinheiro, um bom acesso e energia
elétrica. O projeto de eletrificação rural parou a três quilômetros daqui.
Quando eu tiver 90 anos não quero mais. A estrutura tem que ser implantada
enquanto a pessoa tem condições de progredir” – reclama.
A outra propriedade histórica dos Meira na região é mais
antiga, apesar de se chamar Fazenda Nova. Ela foi construída pelo pai do
coronel Nonô, em 1858, e coube de herança a Netto Meira. Segundo Yuri, está
mais preservada e possui vestígios do tempo da escravatura.
A matéria completa e videos do local você encontra no site do projeto "Meus Sertões", escrita pelo Jornalista Paulo Oliveira, a quem direcionamos todos os créditos.
O projeto Meus Sertões tem por objetivo descobrir e contar
histórias relacionadas às 1.262 cidades do semiárido brasileiro. A região, que
compreende dez estados desde novembro de 2017, tem cerca de 28 milhões de
habitantes e 1.127.953 km² - aproximadamente três vezes o tamanho da Alemanha.
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