segunda-feira, 20 de agosto de 2018

COMUNIDADE DO VINTE E UM: HISTÓRIA

Sexta publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade do Vinte e Um. Pesquisa desenvolvida Rafaela Lopes Rocha e Júlio Rodrigues da Rocha, estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira.



Rafaela Lopes Rocha
Júlio Rodrigues da Rocha


A comunidade do Vinte e Um está situada na região do Salgado, Manoel Vitorino, Bahia. Segundo alguns relatos, os primeiros habitantes foram Jovina Cascais e Henrique Cascais, estes vieram morar na região no início do século XX. 
Há duas versões sobre a origem do nome Vinte e Um, todas relacionadas ao riacho que atravessa a comunidade. A primeira versão diz que o nome é por conta de o riacho ter vinte e uma voltas (curvas) no perímetro que compreende a comunidade. A segunda versão relaciona a origem do nome Vinte e Uma, número de pedras que eram usadas para ajudar os moradores a atravessar o riacho que ficava alagado no período de chuvas.  

Imagem 1: Cartografia representando a comunidade do 21, Manoel Vitorino, Bahia.
Foto: arquivo do estágio/Rafaela Rocha e Julio Rocha, 2018.

A comunidade tem várias atividades culturais, destacamos aqui a festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro da comunidade, comemorado todos os anos no mês de junho. Também no mês de junho tem as tradicionais festas juninas, com muita fogueira e a quadrilha. A festa de Santo Reis, onde os foliões conhecidos como reizeiros que saem de casa em casa cantando e mantendo a tradição durante os primeiros seis dias do mês de janeiro. Além destas destacamos as cavalgadas de final de ano, todas essas atividades culturais vão passando de geração a geração e se transformando em tradição.
Por outro lado, na comunidade também vem se perdendo várias atividades culturais, como por exemplo, os forrós que os moradores faziam nas casas, conhecidas também conhecido como bailes, tinha as cantigas de roda, atualmente as crianças não brincam mais. Não tem mais as rezas a “Cosme e Damião”.
Nesse percurso, vários acontecimentos marcaram a história da comunidade, em conversa com moradores eles relataram que aproximadamente vinte e cinco anos atrás um eclipse solar deixou o céu todo escuro, os moradores ficaram com medo do mundo acabar. Há trinta e cinco anos aconteceu uma tempestade com ventos fortes, onde arvores caíram, cercas quebraram etc.
A associação de moradores também foi um marco importante, com ela a comunidade teve acesso a projetos como cisternas, poço artesiano. Mais recentemente a comunidade foi contemplada com um projeto de extrativismo do coco licuri, palmeira comum na comunidade, nesse projeto as amêndoas do coco, anteriormente sem uso, serão aproveitadas para extrair o óleo, fazer cocadas, ração animal etc., aumentando assim a renda das famílias envolvidas. A associação, nesse sentido, proporcionou que a comunidade tivesse mais autonomia, conhecimento e formado parcerias com instituições que vem contribuído para o desenvolvimento de todas pessoas envolvidas, principalmente os pequenos agricultores.
Nesse período histórico a comunidade teve várias conquistas como podemos destacar a energia elétrica no ano de 2006. Mais recentemente o acesso a internet que proporcionou aos moradores o acesso a um mundo de informação e facilitou a comunicação com pessoas de fora da comunidade. Outra conquista que ajudou a comunidade foi operação carro pipa que coloca água para todos.



As histórias apresentadas nesta série fazem parte das atividades de pesquisas desenvolvida pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.


sábado, 18 de agosto de 2018

COMUNIDADE SERRA GRANDE: TECENDO A HISTÓRIA

Quinta publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" apresenta a história da comunidade Serra Grande. O texto traz alguns recortes da historiografia local, identificando marcos da presença indígena, primeiros moradores do local, no século XVII, o inicio do processo de colonização e extermínio dos povos indígenas com o bandeirante João Gonçalves da Costa nos séculos XVIII e XIX, a emigração dos ancestrais dos moradores atuais no inicio do XX e traços que influenciaram a cultura e modo de vida da comunidade nos dias atuais. Pesquisa desenvolvida por Fernanda Sampaio, Renata Lopes, Everton Silva e Caio Brito, estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira.


Fernanda Macedo Sampaio
Renata Imaculada Macedo Lopes
Everton Fulgêncio da Silva
Caio Silva Brito

Serra Grande é uma comunidade localizada a cerca de 36 quilômetros da sede do município de Manoel Vitorino, Bahia. Situada em uma área de transição entre a mata atlântica e caatinga, região de ecótono conhecida popularmente como mata de cipó, apresenta espécies típicas dos biomas caatinga e floresta atlântica, além de espécies próprias. “Tal fato credencia as matas de cipó como corredores naturais para estabelecer o fluxo gênico entre populações de plantas e animais, assegurando a conservação in situ de diversas espécies da flora nordestina” (MACEDO, 2007).

Foto 1: Vista panorâmica da comunidade Serra Grande, Manoel Vitorino, localizada no Sertão da Ressaca no sudoeste da Bahia.
Foto: Silvino Lopes, 2016.
A região do Sertão da Ressaca, entre o Rio Pardo e o Rio de Contas, área onde está localizada a comunidade foi habitada por indígenas das tribos Pataxó, Mongoyó e os Ymborés (OLIVEIRA, 2012, p. 18). Embora haja poucos indícios da sua presença, na comunidade fruteira, à três km de Serra Grande, foram encontrados em uma área com os resquícios de várias peças cerâmicas de origem indígena, vestígios esses que por conta de os moradores desconhecer o valor antropológico e arqueológico foram sendo destruídos ao passar do tempo. Esses achados reforçam ainda mais a ideia de que o local fora habitado pelos índios das tribos citadas, esses povos eram conhecidos por sua habilidade com o barro, como menciona Oliveira (2012) em sua tese, eram conhecidos como os índios paneleiros.
A ocupação da área onde hoje é o município de Manoel Vitorino pelos colonos iniciou-se após a decadência e esgotamento das minas de ouro em Minas Gerais, até então essa região era estrategicamente pouco explorada para dificultar o contrabando de ouro a quem pretendia fugir dos autos impostos cobrados pela coroa. Nesse período a região servia de reduto para indígenas e escravos que fugiam de outras áreas mais exploradas.
A invasão foi iniciada, de forma definitiva, em meados do século XVIII pelo então bandeirante João Gonçalves da Costa que começou o processo de expulsão e extermínio dos índios que habitavam essa região. Esse processo tinha também como objetivo abrir um caminho entre Minas Gerais e a capital Salvador, para o transporte de mercadorias e deslocamento de grandes boiadas vindas do sertão (OLIVEIRA, 2012).
No ano de 1806, o bandeirante João Gonçalves da Costa instalou-se na fazenda Cachoeira, onde hoje é a sede do município de Manoel Vitorino, de sua propriedade (OLIVEIRA. 2012, p. 63). O Príncipe Maximiliano de Newied, naturalista, etnólogo e explorador alemão, em sua expedição ao Brasil no início do século XIX, relata ter passado a noite na casa do então sertanista e menciona ter o encontrado, o espantoso sujeito, descansando em sua casa na fazenda Cachoeira, atual Manoel Vitorino, rodeado por escravos e índios mansos no ano de 1817 (OLIVEIRA,2012; PARAISO, 2011).
O principal evento que colaborou para a efetiva ocupação da região foi atividade pecuarista, que contribuiu para a fixação do colonizador à medida que se estabeleciam fazendas de gado. Essa atividade, inicialmente, como observado pelo príncipe Maximiliano na fazenda cachoeira, envolvia o trabalho de negros escravizados e índios que eram obrigados a abrir caminhos e cuidar dos animais. Nesse contexto, podemos encontrar na comunidade vestígios de obras construídas por escravizados a mando de seus senhores, a mais importante destas está localizada em uma área montanhosa ao sul da comunidade de Serra Grande.
No local à uma grande vala escavada, atravessando verticalmente parte de um morro. Segundo relatos de alguns moradores esse era um tipo de cerca usada para dividir  e impedir que animais ultrapassassem o limite das propriedades. A obra supostamente foi construída por escravos,  e atualmente encontra-se castigada pela ação do tempo.
Das famílias que residem atualmente na comunidade Serra Grande parte dos ancestrais vieram para comunidade no final do século XIX, vindos principalmente do lugar conhecido como Lage do Gavião, lugar que fora citado em diversos documentos e autores como área de grandes conflitos envolvendo indígenas e tropas bandeirantes. Outras famílias relatam ter origem de lugares onde hoje é o município de Caetanos, além de menções da Chapada diamantina e de localidades onde hoje é o município de Ibicuí.
Os primeiros moradores da comunidade eram pastores de ovelhas, agricultores, outros vaqueiros que trabalhavam para coronéis da época. Um deles era conhecido como Pedro Afonso, cuja a casa grande localizava na fazenda Cúpido, hoje pertencente ao município de Boa Nova, Bahia. A propriedade do então coronel, no final do século XIX, abrangia parte da extensão territorial onde atualmente é a comunidade Serra Grande.

Imagem 1: Cartografia (mapa) da Comunidade Serra Grande, Manoel Vitorino, Bahia.
Fonte: arquivo do estágio, 2018.

No início do século XX parte das terras onde hoje é a comunidade da Serra Grande foram compradas do coronel Pedro Afonso por Silvino Rodrigues em troca de trabalho e algumas cabeças de gado. Hoje as terras da comunidade pertencem a vários donos, isso porque foram vendidas ou herdadas por novas gerações da sua família.
Sobre a origem do nome Serra Grande há algumas possíveis explicações, como por exemplo, a comunidade está situada em uma área montanhosa, com a altitude em alguns lugares ultrapassando os 900 metros. Não foi possível identificar quando realmente a comunidade recebeu esse nome, alguns moradores dizem que seus pais relatavam que há muito tempo atrás o local era conhecido como “Serra de Mané Lopes” e outra parte da comunidade “Serra de Carolina” em referência a uma senhora que morava por lá. Nesse sentido, embora a relação destes com a posse da terra seja desconhecida, pode-se afirmar que estes eram antigos moradores do local, e dessa forma, o nome da comunidade viria a ser apenas uma adaptação desses antigos nomes.
Historicamente a base da alimentação da comunidade foi a mandioca, mas, além dessa, outras culturas também se destacam como: a pecuária, o milho, o “feijão d´arranca” (carioquinha), abobora, a fava, além de outro grande número de espécies. Nesse contexto, podemos destacar a presença de pequenos engenhos, no início do século XX, onde era produzido rapadura e outros derivados da cana de açúcar. Em meados do século XX, houve na comunidade a corrida pelo pó de palha, onde quase todos os moradores estavam envolvidos no extrativismo do licurizeiro. Esse produto era vendido para ser usado na fabricação de plástico.
Os moradores mais antigos relatam que antigamente a comunidade era tomada por grandes faixas de matas onde encontrava fartura de água, eram comuns encontrar macacos e uma infinidade de outras espécies de animais silvestres. Atualmente a comunidade está em estágio avançado de antropização, restando pequenas de faixas de vegetação nativa com um nível razoável de preservação. Observa-se grandes áreas desmatadas para uso na agricultura rápida e plantio de pastagens, esse fato é agravado pelo fato de os solos serem rasos e grande parte da região ter um relevo forte ondulado.

A PRIMEIRA ESCOLA...

Até o início da década de 1970 a comunidade não tinha nenhum tipo de educação ofertada pelo estado, até então não havia escolas na região, as poucas crianças que conseguiam algum tipo de educação eram alfabetizadas em casa, isto é, quando os pais conseguiam pagar professores particulares para ensinarem aos seus filhos o básico como ler, escrever e fazer cálculos. O mais conhecido professor da época chamava-se Almançor Cangussu, filho do antigo Coronel Pedro Afonso, citado anteriormente.
No final dos 1970 os moradores começaram a ser alfabetizados pelo MOBRAL, Movimento Brasileiro de Alfabetização um programa criado em 1970 pelo governo federal com objetivo de erradicar o analfabetismo do Brasil em dez anos. O Mobral propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando “conduzir a pessoa a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida”. O programa foi extinto em 1985 e substituído pelo Projeto Educar.
O primeiro prédio escolar foi construído logo após a extinção do MOBRAL, na antiga fazenda Água Branca, próximo a comunidade, e recebeu o nome de Almançor Canguçu, em homenagem ao primeiro professor da região. Após certo período funcionando nesse local a fazenda entrou em declínio e grande parte dos moradores migraram para outras regiões. A sala onde funcionava a escola, por falta de manutenção começou a se deteriorar, trazendo riscos para os estudantes, então a professora transferiu a local de ensino para a sua própria casa, localizada mais ao centro da comunidade. Durante esse período a escola teve vários professores como Noemi Santos, Jovelina Macedo, Adevanir Macedo e Nelsinda Rodrigues Brito.

Foto 2:  Estudantes comemorando as festas junina na escola Almançor Cangussu, Fazenda Água Branca, Manoel Vitorino, Bahia, no ano de 1982. Ao fundo com o chapéu a professora Adevanir Ribeiro.
Foto: Reprodução

Nelsinda Rodrigues de Brito foi uma das primeiras professoras da escola Almançor Cangussu, atualmente está aposentada e reside na comunidade Serra Grande. No texto a seguir ela narra sua trajetória desde a chegada de sua família a comunidade até sua aposentadoria.
Antigamente na região não havia escola. As pessoas pagavam aulas particulares em casa. Um dos mais antigos moradores e primeiro professor que se tem conhecimento chamava-se Almançor Cangussu, este homem ensinou muito tempo nesta região”. Era muito sabido e ficou muito conhecido. Ao passar do tempo foi embora da região, que ficou novamente sem professores.
Em 1973, Policiano Rodrigues Filho de Silvino Rodrigues que morava no interior de São Paulo, na cidade de Santa Anastácia veio embora com sua família. Chegando na região os filhos de Policiano ficaram sem estudar pois não havia escola nem professores. Eu era a única filha dele que era estudada, então os pais das crianças passaram a me pagar para dar aulas particular, assim comecei minha jornada como professora.
Alguns anos depois, há convite do prefeito passei a ensinar pelo MOBRAL, em uma sala de aula improvisada na casa de meu avô Silvino Rodrigues. Alguns anos depois o então prefeito Renato Vilar construiu uma pequena sala de aula na fazenda Água Branca onde continuei a lecionar (antes de Nelsinda passar lecionar na escola Adevani Ribeiro foi professora por um curto período). Está pequena escola recebeu o nome de Almançor Cangussu em homenagem ao primeiro professor da região. Nesta época ser professora era enfrentar uma batalha todos os dias, eu lecionava nos turnos matutino e vespertino em uma sala superlotada com crianças, multisseriadas, faziam a merenda para as crianças, buscava água, lenha de longe para fazer a merenda e fazia a limpeza da escola. Com pouco tempo a sala de aula foi caindo aos poucos até que foi ao chão, passei a ensinar em minha casa. Em 2000 foi construída uma pequena sala de aula na Fazenda Serra Grande que continua com o mesmo nome da antiga escola Almançor Cangussu.
Tive uma vida sofrida, me considero uma mulher batalhadora, hoje estou com a mente cansada e abatida pelo tempo, em 2014 consegui me aposentar por um salário muito baixo. Só me restou muitas saudades das crianças e de todos os meus colegas de longas datas. “mas Deus é tão bom que vai me recompensar por todas as minhas lutas, só ele é por todos". Que saudade que não acaba mais... Aqui fica minha despedida com uma pequena canção.

É o tra lá lá lá ôôô (3×)
As flores já não crescem mais
Até o alecrim secou
Lambari morreu, sapo se mudou
Porque o ribeirão secou.
É o trá lá lá lá ôôô


A Escola Municipal Almançor Cangussu continua ativa até os dias atuais. Atende crianças do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, da Serra Grande e comunidades vizinhas. Em 2013 passou por uma reforma onde foram acrescentados cantina, banheiro e uma cisterna de 52 mil litros de água . Com apenas uma sala de aula sua aparência é simples, pequena e já sofre com os desgastes do tempo.  Atualmente conta com seis funcionários, incluindo duas professoras, merendeira, faxineira e motoristas. Continua sendo uma escola multissériada com cinco níveis de ensino ao mesmo tempo.

CULTURA REGIONAL...

A grande maioria dos moradores da comunidade são católicos, mesmo não participando ativamente da igreja cada um tem sua forma particular de viver sua fé, e é comum haver na casa dos mais velhos altares destinados a oração.
 Os eventos mais importantes são: São João, Santo Reis, Semana Santa e os festejos do padroeiro São Francisco de Assis que acontecem anualmente na igreja da comunidade vizinha Fruteira.
Sem dúvidas as festas juninas são os eventos mais esperados do ano na comunidade. É um evento repleto de costumes antigos. As casas eram e ainda são enfeitadas com bandeirolas e balões feitos artesanalmente. No período das festas os moradores também enfeitavam uma árvore chamada “árvore de São João”, está lembra um pouco a tradicional árvore de natal, cultura que ainda pode ser encontrada em algumas casas. Estas árvores ficam expostas durante todo o ano e a cada São João são queimadas junto com a fogueira e substituída por uma nova.
No dia 23 do mês de junho acontece o chamado “dia da fogueira”, após o pôr do sol as fogueiras são acesas e ocorre a queima de fogos. Na manhã do dia 24 é tradição acordar cedo e fazer o café da manhã e assar batata doce nas brasas das fogueiras. Nandinalva Rodrigues (2016), conta que antigamente haviam muito mais “brincadeiras”, além desse fato não ouve mudanças significativas no modo de comemoração.
Comadre de Fogueira...
            Antigamente existia um costume muito peculiar no “dia da fogueira’, eram as chamadas “comadre/compadre de fogueira”. Duas pessoas tinham que literalmente pular a fogueira juntas e dizer o seguinte verso:
São João dormiu,
São João acordou,
Salta fogo minha comadre.
São João não mandou.
A partir desse dia eram consideradas comadres. Havia toda uma reverencia entre elas, passavam a respeitar uma a outra e quando uma das comadres se casava passava chamar o marido da outra de compadre também. Hoje em dia não praticam mais esse costume, mas ainda existem comadres de fogueira.
Festa dos Santos Reis...
A festa de santo Reis é uma manifestação religiosa no intuito de rememorar a atitude dos três Reis magos que partiram em uma jornada a procura do esconderijo do prometido messias para prestar lhe homenagem e dar lhe presentes.
Os grupos de foliões saem nos chamados “ternos de Reis”, trajados com roupas e chapéus enfeitados com flores, ramos e fitas. Ao chegar nas casas que os recebem, o primeiro a entrar é o folião com o santo, geralmente em uma caixa de papelão enfeitada com flores e fitas onde contém imagens dos Santos Reis. Cantam e tocam músicas de louvor a Jesus em volta do presépio. Ao final recebem uma doação do morador, que pode doam alimentos, bebidas ou dinheiro, estes são usadas para a festa final ou reza realizada em 6 de janeiro, dias dos Reis Magos na casa do líder do grupo.

Foto 3: Grupo de Reis cantando em casas da comunidade no ano de 1998.
Foto: reprodução

Festas...
Nandinalva Rodrigues conta que antigamente aconteciam muito mais festas nas casas da região como sambas e os forrós conhecidos também como bailes. Segundo ela era comum as pessoas se reunirem para cantar cantigas de roda e fazer brincadeiras. As festas de casamento eram diferentes de hoje. Numa época em que só havia o casamento no religioso a festa já começava na véspera ou “Bespa” como é conhecido. No dia do casamento quando voltavam da igreja, para a cada onde seria realizada a festa, a chamada “chegada dos noivos” era recebida com a seguinte canção:
Saiam fora gente,
venha vê o noivado,
eles foram solteiros
e voltou casado...
Quando os noivos passavam pela porta da frente recebiam uma chuva de perfumes, confetes e arroz. Na tradição os noivos tinham que dar três voltas na casa para terem sorte na união. a festa durava o dia e noite inteira, sempre com muita comida e música, dançavam até o dia amanhecer.

Campo de Futebol...
Como em quase todo lugar do Brasil aqui na comunidade também tem um campo de futebol. Claudionor Ribeiro conta que por volta de 1960 construíram o primeiro campo de futebol. Alguns anos depois o campo passou a ficar muito pequeno para todas as pessoas que jogavam, então na década de 70 transferiram o campo para o local onde está até hoje. Até os dias atuais o futebol continua sendo a principal atividade de lazer dos jovens da comunidade.
  
Foto 4: Integrantes do time de Serra Grande posam para foto ao lado de dois bodes, prêmios ganho em um torneio na comunidade de “Breginho”, no município de Mirante no ano de 2000.
Foto: Reprodução
Períodos de estiagem...
A região sofria muito os efeitos do período de estiagem, a falta de água era grande. Adevaneide Ribeiro, conta que numa certa época, para conseguir água era preciso acordar três horas da manhã, pegavam os jegues e colocavam as cangalhas e os baldes e desciam a serra com uma lanterna feita com litro, usada para iluminar o caminho até a nascente, onde enchiam os baldes e voltavam para casa. Caso chegassem tarde não encontrava água, porque outras pessoas já tinham pegado, caso contrario era necessário esperar a água minar novamente. Ela conta que a água desse miradouro não era de boa qualidade, era uma água com aspecto enferrujado, sua família usava apenas para tomar banho lavar roupa e na limpeza da casa, mas algumas famílias não tinham outro meio de encontrar água potável e usavam dessa água para beber.
Existia um olho d’água na comunidade vizinha, a água que minava lá era boa para o consumo humano. Adevaneide conta que no começo algumas pessoas passavam a noite esperando a água minar e dessa forma alguns ficavam sem água. Passados certo período, após alguns problemas, fizeram uma construção e passaram a trancar a água, toda manhã abriam a cacimba mediam a água e distribuía igualmente para as famílias, a água recebida seria a água usada para beber no decorrer daquele dia.
Nas épocas de seca, conta Maria Ribeiro, os animais bebiam em uma nascente conhecido como “Margosa”, nome do riacho de Antônio bento ou na Salgadinha, ambos eram minadouros de água salgada, e tinham esses nomes em referência as características das suas águas. Quando não haviam mais pastos suficientes davam aos animais as vagens do pau de ferro e a palha do coqueiro licuri como ração.

Mudanças e conquistas: A comunidade atual

Atualmente a região passa por secas e períodos de estiagem anualmente, mas os moradores não são afetados como antes, não há mais a necessidade de percorrer longas distâncias em busca de água. Em 2010 num projeto do governo junto com a ASA, foram construídas em todas as residências cisternas que captam água da chuva com capacidade de armazenagem de 18 mil litros de água, garantem água potável durante praticamente o ano todo. A comunidade também é beneficiária da operação carro-pipa um projeto criado pelo governo federal que tem como nome oficial Programa Emergencial de Distribuição de Água. Seu objetivo principal é levar água para consumo humano nas áreas afetadas pela seca.
Em 2009 aconteceu a instalação da energia elétrica na comunidade sem dúvidas provocou muitas mudanças na forma de vida. Foi o fim da era dos lampiões a gás, candeeiros e velas. Os meios de comunicação melhoraram muito passaram das cartas para os telefones e mais recentemente os Smartfones com acesso à internet.

            Enfim, nesse longo período de história ao qual objetivou-se aqui trazer alguns recortes, podemos observar que a comunidade atravessou vários períodos históricos, e nesse processo ocorreram grandes transformações políticas, sociais e econômicas. Pode-se observar que as mudanças mais drásticas que provocaram e provocam grandes efeitos nas características ambientais e físicas da comunidade foi a nova forma de ocupação do espaço imposta com chegada dos colonizadores.


As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

SALGADO GRANDE: RELATOS DA HISTÓRIA

Larissa Luz de Jesus


Quarta publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade de Salgado Grande. Pesquisa desenvolvida por Larissa Luz de Jesus, estudante do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira.


         Salgado Grande é um pequeno povoado do município de Manoel Vitorino, formado inicialmente por seis famílias de prenomes Erpide Teixeira, Antônio Inspetor, Adélia, Genésio, Joana e Antônio da Luz. O povoado está localizado próxima ao distrito de Salgado pequeno, vale ressaltar que o respectivo distrito tem o nome inspirado na comunidade do Salgado Grande.

Imagem: Imagem de satélite da comunidade do Salgado Grande, Manoel Vitorino, Bahia 
Fonte: Google Earth, 2018

No início existiam poucos moradores, todos eram agricultores e viviam do que produziam nas suas terras. Nesse período Erpide Teixeira um morador da comunidade sempre reunia a pequena população e promovia grandes missas e festas em sua casa, como gostava de fazer. Aos poucos foi aumentando o número famílias e o povoado cresceu, construíram mais casas, surgiram pequenas vendas que facilitaram a compra de mantimentos e gás para os candeeiros que era principal fonte de luz naquele tempo, pois ainda não tinha energia elétrica.  Após certo período os moradores decidiram fazer uma feira onde pudesse comprar e vender suas lavouras, mas um dos moradores que detinha maior parte das terras não aceitou. Foi aí que outro povoado surgiu com o nome Salgado Pequeno, este hoje se tornou mais desenvolvido que o Salgado grande e recentemente foi promovido a distrito do município de Manoel Vitorino.  
A comunidade do Salgado Grande já passou por longos períodos de chuvas fortes com grandes enchentes que os isolava das vendas que eram muito longes.
Mais recentemente o Salgado Grande se uniu na construção da primeira igreja da comunidade, novamente durante a construção toda a população se “conectou”, onde todos contribuíram, os que não podiam dar material de construção doava seu tempo e assim também ajudava a construir. Hoje a igreja pronta tendo como padroeiro Santo Antônio, igreja essa onde atualmente se realiza missas, batizados etc. e se tornou o principal elo entre os moradores da comunidade.
            
As histórias desta série fazem parte das atividades de pesquisas desenvolvida pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, da Escola Municipal Marcílio Teixeira, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

quinta-feira, 16 de agosto de 2018

MINHA BIOGRAFIA, LEONARDO RODRIGUES...

Leonardo Rodrigues Bispo


Meu nome é Leonardo Rodrigues Bispo. Não sei o que influenciou meus pais a colocarem esse nome, mas também nunca perguntei a minha querida mãe, acho que foi questão de gosto mesmo. Nasci em 1987, na cidade de Jequié, Bahia, no mesmo ano em que meus pais se casaram. O fato de ter nascido em Jequié foi por conta de meus pais buscarem ter um parto hospitalar. Após esse momento fui residir em um povoado chamado Salgado Grande na cidade de Manoel Vitorino, BA.

Imagem 1: Arte representando a comunidade do salgado, por Leonardo Rodrigues.
Fonte: arquivo do estágio/Leonardo Rodrigues, 2018.

A minha mãe chama-se Zélia Rodrigues Bispo e meu pai (in memoriam) chamava-se José Macedo R. do meu nascimento até os meus cinco anos de idade morei no estado da Bahia.  Ao completar os cinco anos migrei-me para São Paulo, S.P., onde morei de favor em casas de parentes. Aos sete anos comecei a frequentar a escola, iniciei os meus estudos na Escola Estadual Carazinho, onde sofri muito com agressões físicas e bullying, comecei bem e cheguei ao 6º ano do ensino fundamental em uma outra escola chamada Escola Estadual Vila Bela, onde cursei até o 9º ano do ensino fundamental. Nesse período parei de estudar por conta de alguns problemas pessoais e após duas décadas acabei voltando as minhas origens. Atualmente já faz cinco anos que estou novamente morando no povoado do Salgado Grande.
Voltei a estudar, para mim estou cursando na melhor escola, a Escola Municipal Marcílio Teixeira, onde estou perto da conclusão do ensino médio e agradeço a Deus por ter me guiado para o caminho certo.


Terceira publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a autobiografia de Leonardo Rodrigues Bispo, estudante do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira.


As histórias dessa série fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, da Escola Municipal Marcílio Teixeira, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

quarta-feira, 15 de agosto de 2018

HISTÓRIA DA COMUNIDADE VASSOURINHA

Sônia Rodrigues Almeida

Vassourinha é uma comunidade rural localizada a sudoeste da sede do município de Manoel Vitorino, Bahia. A origem do nome Vassourinha está relacionado a uma planta nativa, que como o próprio nome já diz era bastante usado como vassoura pelos habitantes. Segundo José Gonsalves, de 86 anos, esse nome foi dado pelos antigos moradores. Na comunidade tinha-se a cultura de construírem extensos terreiros de terra batida próximos as casas e estes acabavam sendo usados pelos animais, principalmente pelas vacas como local para dormir ou passar a noite, dessa forma os terreiros ficavam forrados de dejetos e naquela época a única vassoura que conseguia resistir e empurrar o esterco eram os feitos com a vassourinha. Esse fato, de acordo com Seu José Gonçalves, foi crucial para os moradores adotarem o nome vassourinha.

Foto 1. Planta conhecida popularmente como Vassourinha, Vassourinha Curraleira, malvinha, relógio (Sida acuta), que deu origem ao nome da comunidade Vassourinha em Manoel Vitorino, Bahia.
Foto: Reprodução
A comunidade de Vassourinha surgiu por volta do ano 1920, quando “Martile Gonçalves Sampaio”, que também é avô de Sônia Rodrigues, autora da pesquisa, veio morar onde hoje é a comunidade. Os primeiros moradores eram membros das famílias Gonsalves Sampaio, Venâncio Sampaio e Rodrigues Sampaio.
Conta o senhor José Gonçalves que essa época foi um tempo de muitas dificuldades onde tudo era de uma grande simplicidade e com muitas regras. Segundo seu José a realidade daquele tempo era muito diferente do que vivemos hoje em dia.
Segundo Sr. José, naquele tempo o povo vivia do que plantava. A mamona era considerada “o dinheiro” da época, vendiam e em troca obtinham mantimentos que não eram produzidos na sua propriedade, como tecidos, sal e outros materiais básicos para no sustento da família. A comida vinha da roça onde tinham plantações de lavouras, lá colhia arroz, feijão, mandioca, milho, batata doce e abóbora, que na época era de fartura. Na comunidade ainda tem uma casa de farinha era usada para fazer beijus e tirar goma, hoje está desativada por falta de mandioca. Na comunidade têm criação de gado, cabra, galinha, porcos e peru. Encontra-se também várias frutas nativas como podemos destacar o Umbu e o licuri.
Imagem 1: Cartografia da comunidade de Vassourinha, Manoel Vitorino, Bahia.
Fonte: arquivo do estágio/Sônia Rodrigues, 2018.

Nesse percurso, vários acontecimentos marcaram a história da comunidade, em conversa com moradores alguns fatos foram mencionados por mais de uma vez, nesse caso, podemos destacar um grande eclipse solar, onde segundo algumas pessoas luz nenhuma clareava o ambiente. Além desse eclipse aconteceram alguns eclipses lunares causando prejuízos nas plantações. Destaca-se também a ocorrência de algumas tempestades como a que ocorreu no ano de 1985, onde parte da comunidade ficou ilhada, onde os moradores não conseguiam sair de casa.
Naquela época existiam poucas estradas ligando a comunidade a outras localidades, usavam-se como transporte os cavalos e jegues, estes conseguia transitar mais facilmente pelas trilhas conhecido localmente como carreiros, comuns naquele tempo. Essa dificuldade aumentava com a chegada do período chuvoso, pois as tempestades alagavam partes da comunidade, além de muitas vezes tornar a travessia dos pequenos riachos uma aventura perigosa. A luz era de lamparina ou candeeiro. Quando alguma pessoa que ficava doente era tratada com ervas medicinais ou iam à cidade consultar um farmacêutico para medicá-lo. Os partos, por exemplo, eram feitos por parteiras muito comum nas comunidades.
Os moradores ainda mantêm algumas tradições como a festa junina, considerada a festa mais tradicional da comunidade, o natal, semana santa, festa de Santo Reis. Hoje não tem mais o pau-de-sebo, evento cultural que acontecia no período das festas juninas e acabou quebrando a tradição. Outra tradição cristã bastante presente na comunidade é a semana santa, e que ainda se preserva igual aos tempos passados, nessa ocasião as pessoas vão nas casas dos padrinhos pedir benção, levar alguns presentes. Ao final desse período tinham-se na comunidade o costume de fazer um boneco de pano, vestir roupa e depois queima-lo no sábado de páscoa, essa tradição era dado o nome de judas, o que traiu jesus, hoje não existe mais.

Meu lugar na história, Sônia Rodrigues Almeida...

Minha infância foi muito boa, brincava muito, adorava brincar de cantiga de roda, pular amarelinha, pular corda, de casinha fazendo comidinhas. Meu pai trabalhava na roça plantando lavouras tipo: milho, feijão, melancia, mandioca. Tínhamos algumas vacas, porcos, galinhas e perus, o leite era tirado e dividido com as pessoas da comunidade.
Agora tudo está melhor, houve muitas conquistas na nossa comunidade, como por exemplo: a energia elétrica, água encanada, cisternas em todas as casas, os caminhões pipas trazem água para a comunidade, transporte escolar, internet, temos também a associação que fundamos em 11 de junho de 2011. Agora estamos construindo a sede da associação para que possamos trazer cursos para a nossa comunidade, era para a nossa comunidade está bem mais evoluída, mas muitas pessoas saíram para são Paulo em busca de trabalho.

Segunda publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade de Vassourinha. Pesquisa desenvolvida Sônia Rodrigues Almeida, estudante do terceiro ano do ensino médio.


As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.