Quinta publicação da série "A História
Local e o Meu Lugar na História" apresenta a história da comunidade Serra Grande. O texto traz alguns recortes da historiografia local, identificando marcos da presença indígena, primeiros moradores do local, no século XVII, o inicio do processo de colonização e extermínio dos povos indígenas com o bandeirante João Gonçalves da Costa nos séculos XVIII e XIX, a emigração dos ancestrais dos moradores atuais no inicio do XX e traços que influenciaram a cultura e modo de vida da comunidade nos dias atuais. Pesquisa desenvolvida por Fernanda Sampaio, Renata Lopes, Everton Silva e Caio Brito, estudantes do
terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira.
Fernanda Macedo Sampaio
Renata Imaculada Macedo Lopes
Everton Fulgêncio da Silva
Caio Silva Brito
Serra Grande é uma comunidade localizada a
cerca de 36 quilômetros da sede do município de Manoel Vitorino, Bahia. Situada
em uma área de transição entre a mata atlântica e caatinga, região de ecótono
conhecida popularmente como mata de cipó, apresenta espécies típicas dos biomas
caatinga e floresta atlântica, além de espécies próprias. “Tal fato credencia
as matas de cipó como corredores naturais para estabelecer o fluxo gênico entre
populações de plantas e animais, assegurando a conservação in situ de diversas espécies da flora nordestina” (MACEDO, 2007).
Foto
1: Vista panorâmica da comunidade Serra Grande, Manoel Vitorino, localizada no
Sertão da Ressaca no sudoeste da Bahia.
Foto: Silvino Lopes, 2016.
A região do Sertão da Ressaca, entre o Rio
Pardo e o Rio de Contas, área onde está localizada a comunidade foi habitada
por indígenas das tribos Pataxó, Mongoyó e os Ymborés (OLIVEIRA, 2012, p. 18).
Embora haja poucos indícios da sua presença, na comunidade fruteira, à três km
de Serra Grande, foram encontrados em uma área com os resquícios de várias
peças cerâmicas de origem indígena, vestígios esses que por conta de os
moradores desconhecer o valor antropológico e arqueológico foram sendo
destruídos ao passar do tempo. Esses achados reforçam ainda mais a ideia de que
o local fora habitado pelos índios das tribos citadas, esses povos eram
conhecidos por sua habilidade com o barro, como menciona Oliveira (2012) em sua
tese, eram conhecidos como os índios paneleiros.
A ocupação da área onde hoje é o município de
Manoel Vitorino pelos colonos iniciou-se após a decadência e esgotamento das
minas de ouro em Minas Gerais, até então essa região era estrategicamente pouco
explorada para dificultar o contrabando de ouro a quem pretendia fugir dos
autos impostos cobrados pela coroa. Nesse período a região servia de reduto
para indígenas e escravos que fugiam de outras áreas mais exploradas.
A invasão foi iniciada, de forma definitiva,
em meados do século XVIII pelo então bandeirante João Gonçalves da Costa que começou
o processo de expulsão e extermínio dos índios que habitavam essa região. Esse
processo tinha também como objetivo abrir um caminho entre Minas Gerais e a
capital Salvador, para o transporte de mercadorias e deslocamento de grandes
boiadas vindas do sertão (OLIVEIRA, 2012).
No ano de 1806, o bandeirante João Gonçalves
da Costa instalou-se na fazenda Cachoeira, onde hoje é a sede do município de
Manoel Vitorino, de sua propriedade (OLIVEIRA. 2012, p. 63). O Príncipe Maximiliano
de Newied, naturalista, etnólogo e explorador alemão, em sua expedição ao
Brasil no início do século XIX, relata ter passado a noite na casa do então
sertanista e menciona ter o encontrado, o espantoso sujeito, descansando em sua
casa na fazenda Cachoeira, atual Manoel Vitorino, rodeado por escravos e índios
mansos no ano de 1817 (OLIVEIRA,2012; PARAISO, 2011).
O principal evento que colaborou para a
efetiva ocupação da região foi atividade pecuarista, que contribuiu para a
fixação do colonizador à medida que se estabeleciam fazendas de gado. Essa
atividade, inicialmente, como observado pelo príncipe Maximiliano na fazenda
cachoeira, envolvia o trabalho de negros escravizados e índios que eram
obrigados a abrir caminhos e cuidar dos animais. Nesse contexto, podemos encontrar
na comunidade vestígios de obras construídas por escravizados a mando de seus
senhores, a mais importante destas está localizada em uma área montanhosa ao
sul da comunidade de Serra Grande.
No local à uma grande vala escavada, atravessando
verticalmente parte de um morro. Segundo relatos de alguns moradores esse era
um tipo de cerca usada para dividir e impedir que animais ultrapassassem
o limite das propriedades. A obra supostamente foi construída por escravos, e atualmente encontra-se castigada
pela ação do tempo.
Das famílias que residem atualmente na
comunidade Serra Grande parte dos ancestrais vieram para comunidade no final do
século XIX, vindos principalmente do lugar conhecido como Lage do Gavião, lugar
que fora citado em diversos documentos e autores como área de grandes conflitos
envolvendo indígenas e tropas bandeirantes. Outras famílias relatam ter origem
de lugares onde hoje é o município de Caetanos, além de menções da Chapada diamantina
e de localidades onde hoje é o município de Ibicuí.
Os primeiros moradores da comunidade eram pastores de ovelhas, agricultores, outros
vaqueiros que trabalhavam para coronéis da época. Um deles era conhecido como
Pedro Afonso, cuja a casa grande localizava na fazenda Cúpido, hoje pertencente ao
município de Boa Nova, Bahia. A propriedade do então coronel, no final do
século XIX, abrangia parte da extensão territorial onde atualmente é a
comunidade Serra Grande.
Imagem 1: Cartografia (mapa) da Comunidade
Serra Grande, Manoel Vitorino, Bahia.
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Fonte: arquivo do estágio, 2018. |
No início do século XX parte das terras onde
hoje é a comunidade da Serra Grande foram compradas do coronel Pedro Afonso por
Silvino Rodrigues em troca de trabalho e algumas cabeças de gado. Hoje as
terras da comunidade pertencem a vários donos, isso porque foram vendidas ou
herdadas por novas gerações da sua família.
Sobre a origem do nome Serra Grande há algumas
possíveis explicações, como por exemplo, a comunidade está situada em uma área
montanhosa, com a altitude em alguns lugares ultrapassando os 900 metros. Não
foi possível identificar quando realmente a comunidade recebeu esse nome,
alguns moradores dizem que seus pais relatavam que há muito tempo atrás o local
era conhecido como “Serra de Mané Lopes” e outra parte da comunidade “Serra de
Carolina” em referência a uma senhora que morava por lá. Nesse sentido, embora
a relação destes com a posse da terra seja desconhecida, pode-se afirmar que
estes eram antigos moradores do local, e dessa forma, o nome da comunidade
viria a ser apenas uma adaptação desses antigos nomes.
Historicamente a base da alimentação da comunidade
foi a mandioca, mas, além dessa, outras culturas também se destacam como: a
pecuária, o milho, o “feijão d´arranca” (carioquinha), abobora, a fava, além de
outro grande número de espécies. Nesse contexto, podemos destacar a presença de
pequenos engenhos, no início do século XX, onde era produzido rapadura e outros
derivados da cana de açúcar. Em meados do século XX, houve na comunidade a corrida
pelo pó de palha, onde quase todos os moradores estavam envolvidos no extrativismo
do licurizeiro. Esse produto era vendido para ser usado na fabricação de
plástico.
Os moradores mais antigos relatam que antigamente a comunidade era tomada por grandes faixas de matas
onde encontrava fartura de água, eram comuns encontrar macacos e uma infinidade
de outras espécies de animais silvestres. Atualmente a comunidade está em estágio avançado de antropização,
restando pequenas de faixas de vegetação nativa com um nível razoável de
preservação. Observa-se grandes áreas desmatadas para uso na agricultura rápida
e plantio de pastagens, esse fato é agravado pelo fato de os solos serem rasos
e grande parte da região ter um relevo forte ondulado.
A PRIMEIRA ESCOLA...
Até o início da década de 1970 a comunidade
não tinha nenhum tipo de educação ofertada pelo estado, até então não havia
escolas na região, as poucas crianças que conseguiam algum tipo de educação eram
alfabetizadas em casa, isto é, quando os pais conseguiam pagar professores
particulares para ensinarem aos seus filhos o básico como ler, escrever e fazer
cálculos. O mais conhecido professor da época chamava-se Almançor Cangussu,
filho do antigo Coronel Pedro Afonso, citado anteriormente.
No final dos 1970 os moradores começaram a ser
alfabetizados pelo MOBRAL, Movimento Brasileiro de Alfabetização um programa
criado em 1970 pelo governo federal com objetivo de erradicar o analfabetismo
do Brasil em dez anos. O Mobral propunha a alfabetização funcional de jovens e
adultos, visando “conduzir a pessoa a adquirir técnicas de leitura, escrita e
cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições
de vida”. O programa foi extinto em 1985 e substituído pelo Projeto Educar.
O primeiro prédio escolar foi construído logo
após a extinção do MOBRAL, na antiga fazenda Água Branca, próximo a comunidade,
e recebeu o nome de Almançor Canguçu, em homenagem ao primeiro professor da região.
Após certo período funcionando nesse local a fazenda entrou em declínio e
grande parte dos moradores migraram para outras regiões. A sala onde funcionava
a escola, por falta de manutenção começou a se deteriorar, trazendo riscos para
os estudantes, então a professora transferiu a local de ensino para a sua
própria casa, localizada mais ao centro da comunidade. Durante esse período a
escola teve vários professores como Noemi Santos, Jovelina Macedo, Adevanir
Macedo e Nelsinda Rodrigues Brito.
Foto 2: Estudantes comemorando as festas junina na
escola Almançor Cangussu, Fazenda Água Branca, Manoel Vitorino, Bahia, no ano de
1982. Ao fundo com o chapéu a professora Adevanir Ribeiro.
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Foto: Reprodução |
Nelsinda Rodrigues de
Brito foi uma das primeiras professoras da escola Almançor Cangussu, atualmente
está aposentada e reside na comunidade Serra Grande. No texto a seguir ela
narra sua trajetória desde a chegada de sua família a comunidade até sua
aposentadoria.
“Antigamente na região não havia escola. As pessoas pagavam aulas
particulares em casa. Um dos mais antigos moradores e primeiro professor que se
tem conhecimento chamava-se Almançor Cangussu, este homem ensinou muito tempo
nesta região”. Era muito sabido e ficou muito conhecido. Ao passar do tempo foi
embora da região, que ficou novamente sem professores.
Em 1973, Policiano Rodrigues Filho de Silvino Rodrigues que morava no
interior de São Paulo, na cidade de Santa Anastácia veio embora com sua
família. Chegando na região os filhos de Policiano ficaram sem estudar pois não
havia escola nem professores. Eu era a única filha dele que era estudada, então
os pais das crianças passaram a me pagar para dar aulas particular, assim comecei
minha jornada como professora.
Alguns anos depois, há convite do prefeito passei a ensinar pelo
MOBRAL, em uma sala de aula improvisada na casa de meu avô Silvino Rodrigues.
Alguns anos depois o então prefeito Renato Vilar construiu uma pequena sala de
aula na fazenda Água Branca onde continuei a lecionar (antes de Nelsinda passar
lecionar na escola Adevani Ribeiro foi professora por um curto período). Está
pequena escola recebeu o nome de Almançor Cangussu em homenagem ao primeiro
professor da região. Nesta época ser professora era enfrentar uma batalha todos
os dias, eu lecionava nos turnos matutino e vespertino em uma sala superlotada
com crianças, multisseriadas, faziam a merenda para as crianças, buscava água,
lenha de longe para fazer a merenda e fazia a limpeza da escola. Com pouco tempo a sala de aula foi
caindo aos poucos até que foi ao chão, passei a ensinar em minha casa. Em 2000
foi construída uma pequena sala de aula na Fazenda Serra Grande que continua
com o mesmo nome da antiga escola Almançor Cangussu.
Tive uma vida sofrida, me considero uma mulher batalhadora, hoje estou
com a mente cansada e abatida pelo tempo, em 2014 consegui me aposentar por um
salário muito baixo. Só me restou muitas saudades das crianças e de todos os meus colegas de longas datas. “mas Deus é tão bom que vai me recompensar por
todas as minhas lutas, só ele é por
todos". Que saudade que não acaba mais... Aqui fica minha despedida com uma
pequena canção.
É o tra lá lá lá ôôô (3×)
As flores já não crescem mais
Até o alecrim secou
Lambari morreu, sapo se mudou
Porque o ribeirão secou.
É o trá lá lá lá ôôô
A Escola
Municipal Almançor Cangussu continua ativa até os dias atuais. Atende crianças
do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, da Serra Grande e comunidades
vizinhas. Em 2013 passou por uma reforma onde foram acrescentados cantina, banheiro e uma cisterna de 52 mil litros de água . Com apenas uma sala de aula sua aparência é simples, pequena e já
sofre com os desgastes do tempo.
Atualmente conta com seis funcionários, incluindo duas professoras,
merendeira, faxineira e motoristas. Continua sendo uma escola multissériada com
cinco níveis de ensino ao mesmo tempo.
CULTURA REGIONAL...
A grande maioria dos moradores da comunidade
são católicos, mesmo não participando ativamente da igreja cada um tem sua
forma particular de viver sua fé, e é comum haver na casa dos mais velhos
altares destinados a oração.
Os
eventos mais importantes são: São João, Santo Reis, Semana Santa e os festejos
do padroeiro São Francisco de Assis que acontecem anualmente na igreja da
comunidade vizinha Fruteira.
Sem dúvidas as festas juninas são os eventos
mais esperados do ano na comunidade. É um evento repleto de costumes antigos. As
casas eram e ainda são enfeitadas com bandeirolas e balões feitos artesanalmente.
No período das festas os moradores também enfeitavam uma árvore chamada “árvore
de São João”, está lembra um pouco a tradicional árvore de natal, cultura que
ainda pode ser encontrada em algumas casas. Estas árvores ficam expostas
durante todo o ano e a cada São João são queimadas junto com a fogueira e
substituída por uma nova.
No dia 23 do mês de junho acontece o chamado
“dia da fogueira”, após o pôr do sol as fogueiras são acesas e ocorre a queima
de fogos. Na manhã do dia 24 é tradição acordar cedo e fazer o café da manhã e assar batata doce nas brasas das fogueiras. Nandinalva Rodrigues (2016), conta que antigamente
haviam muito mais “brincadeiras”, além desse fato não ouve mudanças significativas
no modo de comemoração.
Comadre de Fogueira...
Antigamente existia um costume muito peculiar no “dia da
fogueira’, eram as chamadas “comadre/compadre de fogueira”. Duas pessoas tinham
que literalmente pular a fogueira juntas e dizer o seguinte verso:
São João dormiu,
São João acordou,
Salta fogo minha comadre.
São João não mandou.
A partir desse dia eram consideradas comadres.
Havia toda uma reverencia entre elas, passavam a respeitar uma a outra e quando
uma das comadres se casava passava chamar o marido da outra de compadre também.
Hoje em dia não praticam mais esse costume, mas ainda existem comadres de
fogueira.
Festa dos Santos Reis...
A festa de santo Reis é uma manifestação
religiosa no intuito de rememorar a atitude dos três Reis magos que partiram em
uma jornada a procura do esconderijo do prometido messias para prestar lhe
homenagem e dar lhe presentes.
Os grupos de foliões saem nos chamados “ternos
de Reis”, trajados com roupas e chapéus enfeitados com flores, ramos e fitas. Ao
chegar nas casas que os recebem, o primeiro a entrar é o folião com o santo, geralmente
em uma caixa de papelão enfeitada com flores e fitas onde contém imagens dos
Santos Reis. Cantam e tocam músicas de louvor a Jesus em volta do presépio. Ao
final recebem uma doação do morador, que pode doam alimentos, bebidas ou dinheiro, estes são usadas para a festa final ou reza realizada em 6 de janeiro, dias dos Reis Magos
na casa do líder do grupo.
Foto
3: Grupo de Reis cantando em casas da comunidade no ano de 1998.
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Foto: reprodução |
Festas...
Nandinalva Rodrigues conta que antigamente
aconteciam muito mais festas nas casas da região como sambas e os forrós
conhecidos também como bailes. Segundo ela era comum as pessoas se reunirem
para cantar cantigas de roda e fazer brincadeiras. As festas de casamento eram
diferentes de hoje. Numa época em que só havia o casamento no religioso a festa
já começava na véspera ou “Bespa” como é conhecido. No dia do casamento quando
voltavam da igreja, para a cada onde seria realizada a festa, a chamada
“chegada dos noivos” era recebida com a seguinte canção:
Saiam fora gente,
venha vê o noivado,
eles foram solteiros
e voltou casado...
Quando os noivos passavam pela porta da frente
recebiam uma chuva de perfumes, confetes e arroz. Na tradição os noivos tinham
que dar três voltas na casa para terem sorte na união. a festa durava o dia e
noite inteira, sempre com muita comida e música, dançavam até o dia amanhecer.
Campo de Futebol...
Como em quase todo lugar do Brasil aqui na
comunidade também tem um campo de futebol. Claudionor Ribeiro conta que
por volta de 1960 construíram o primeiro campo de futebol. Alguns anos depois o
campo passou a ficar muito pequeno para todas as pessoas que jogavam, então na
década de 70 transferiram o campo para o local onde está até hoje. Até os dias
atuais o futebol continua sendo a principal atividade de lazer dos jovens da
comunidade.
Foto
4: Integrantes do time de Serra Grande posam para foto ao lado de dois bodes,
prêmios ganho em um torneio na comunidade de “Breginho”, no município de
Mirante no ano de 2000.
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Foto: Reprodução |
Períodos
de estiagem...
A região sofria muito
os efeitos do período de estiagem, a falta de água era grande. Adevaneide
Ribeiro, conta que numa certa época, para conseguir água era preciso acordar três horas da manhã, pegavam os jegues e colocavam as cangalhas e os baldes e
desciam a serra com uma lanterna feita com litro, usada para iluminar o caminho até a nascente, onde enchiam os baldes e voltavam para casa. Caso chegassem tarde não encontrava água,
porque outras pessoas já tinham pegado, caso contrario era necessário esperar a água minar
novamente. Ela conta que a água desse miradouro não era de
boa qualidade, era uma água com aspecto enferrujado, sua família usava apenas
para tomar banho lavar roupa e na limpeza da casa, mas algumas famílias não
tinham outro meio de encontrar água potável e usavam dessa água para beber.
Existia um olho d’água
na comunidade vizinha, a água que minava lá era boa para o consumo humano. Adevaneide conta que no começo algumas pessoas passavam a noite esperando a
água minar e dessa forma alguns ficavam sem água. Passados certo período, após
alguns problemas, fizeram uma construção e passaram a trancar a água, toda
manhã abriam a cacimba mediam a água e distribuía igualmente para as famílias,
a água recebida seria a água usada para beber no decorrer daquele dia.
Nas épocas de seca,
conta Maria Ribeiro, os animais bebiam em uma nascente conhecido como “Margosa”,
nome do riacho de Antônio bento ou na Salgadinha, ambos eram minadouros de água
salgada, e tinham esses nomes em referência as características das suas águas.
Quando não haviam mais pastos suficientes davam aos animais as vagens do pau de
ferro e a palha do coqueiro licuri como ração.
Mudanças e conquistas:
A comunidade atual
Atualmente a região passa por secas e períodos
de estiagem anualmente, mas os moradores não são afetados como antes, não há
mais a necessidade de percorrer longas distâncias em busca de água. Em 2010 num
projeto do governo junto com a ASA, foram construídas em todas as residências
cisternas que captam água da chuva com capacidade de armazenagem de 18 mil litros de
água, garantem água potável durante praticamente o ano todo. A comunidade
também é beneficiária da operação carro-pipa um projeto criado pelo governo
federal que tem como nome oficial Programa Emergencial de Distribuição de Água.
Seu objetivo principal é levar água para consumo humano nas áreas afetadas pela
seca.
Em 2009 aconteceu a instalação da energia
elétrica na comunidade sem dúvidas provocou muitas mudanças na forma de vida.
Foi o fim da era dos lampiões a gás, candeeiros e velas. Os meios de
comunicação melhoraram muito passaram das cartas para os telefones e mais
recentemente os Smartfones com acesso à internet.
Enfim, nesse longo período de
história ao qual objetivou-se aqui trazer alguns recortes, podemos observar que
a comunidade atravessou vários períodos históricos, e nesse processo ocorreram
grandes transformações políticas, sociais e econômicas. Pode-se observar que as
mudanças mais drásticas que provocaram e provocam grandes efeitos nas características
ambientais e físicas da comunidade foi a nova forma de ocupação do espaço imposta
com chegada dos colonizadores.
As histórias fazem parte das atividades de
pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018,
promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do estágio intitulado de “A História Local e o
Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos
elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a
história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a
curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação
territorial, cartografia e história local.