quinta-feira, 11 de outubro de 2018

MANUEL VITORINO PEREIRA


Com a emancipação do então distrito Imbuíra, a Lei estadual nº1771/62 muda também o seu nome para Manuel Vitorino, nome este dado em homenagem ao grande homem público Dr. Manuel Vitorino Pereira, que exerceu os cargos de governador da Bahia e Vice-presidente da república do Brasil.

Foto: Academia Nacional de Medicina/ Google, 2018.


Manuel Vitorino Pereira nasceu em Salvador no dia 30 de janeiro de 1853. Cursou os preparatórios para medicina, e em 1871 ingressa na Faculdade de Medicina da Bahia, onde obteve o grau de doutor em 1876. Defensor das reformas para a extinção do trabalho escravo um abolicionista e republicano convicto. Companheiro político de Ruy Barbosa. Com a Proclamada República foi imediatamente nomeado governador da Bahia, por solicitação do conselheiro Ruy Barbosa, do qual era senador. No seu governo a Bahia passou de Província Unitária a Estado Federativo. Incentivou a difusão do ensino popular e criou a Milícia Civil (Guarda Cívica), organizou também uma comissão para estudar e elaborar a constituição estadual. Ainda em seu governo foi fundado o Arquivo Público, depositário legal dos documentos da história da Bahia.
Quando da convocação da Constituinte do Estado, aceitou o lugar de senador, contribuindo com o seu talento e discernimento para a elaboração das leis orgânicas. Exerceu a vice-presidência da República de 1894 a 1898. Coube-lhe, no exercício das funções públicas federais, fundar a Biblioteca Parlamentar do Senado. Presidia o senado quando, no período de 11 de novembro de 1896 a 04 de março de 1897, exerceu a Presidência da República. Durante a sua administração foi substituído o ministério e iniciaram-se reformas em diversos departamentos do governo.
Após o término de seu mandato, não pleiteou mais cargos políticos. Faleceu no dia 09 de novembro de 1902, aos 49 anos, no Rio de Janeiro. E deixou uma série de trabalhos publicados sobre Medicina e Política. Em sua homenagem no dia 30 de julho de 1962 foi criado o município de Manoel Vitorino, na região sudoeste.

quinta-feira, 20 de setembro de 2018

HISTÓRIA DO SALGADO

Ultima publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade do Salgado. Pesquisa desenvolvida por estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira, moradores da comunidade.


Amanda Rosa Tomaz
Milady de Souza Garcia
Gabriel Moreira Batista
Ana Paula Rodrigues Bispo
Kévin Lopes Gomes

Salgado é um povoado do município de Manoel Vitorino, recentemente foi promovido a distrito. Está localizado a cerca de 25 quilômetros a sudeste da sede do município. No ano de 2014 o povoado contava com 128 famílias, totalizando 397 habitantes (ACS/Secretária Municipal de Saúde, 2014). Assim como os primeiros moradores da comunidade grande parte da população hoje vive da pecuária e agricultura. 

Imagem: Vista aérea da comunidade do salgado, Manoel Vitorino/BA.

Fonte: reprodução/Play Drone, 2016


Os primeiros moradores do local eram vaqueiros que vieram trabalhar nas terras do antigo coronel Pedro Afonso, por volta dos anos 1930. Onde hoje é o povoado era o limite entre a fazenda Fama do Cupido e a fazenda Mirante, terras compradas por dois desses vaqueiros, o senhor Gervino Correia e o Senhor Marcílio Teixeira que também tinha um pequeno comércio que vendia mantimentos para os peões naquela época. A feira e a escola começaram quando Marcilio Teixeira juntamente com o pai de seu Fraldiz doou uma terra, então a partir daí fizeram primeiro a feira do salgado e logo depois a escola que mais tarde ficou conhecida como Escola Municipal Marcilio Teixeira.
No ano de 1982 o Sr. Marcilio Teixeira que tinha certa influência chamou o prefeito e o convenceu a construir a escola e a feira no povoado onde os agricultores e mascates da época passaram a vender suas mercadorias com a criação da feira o local passou a ser requisitado e o número de moradores aumentou posteriormente o povoado passou a ser um núcleo comercial e educacional entre as comunidades vizinhas.

Imagem: Mapa da comunidade do Salgado, Manoel Vitorino, Bahia.
Fonte: arquivo do estágio, 2018.

O meio de sobrevivência era do pó de palha do coqueiro do Ouricuri, cascas de plantações para remédios, mel de abelhas e farinha de mandioca. O Salgado começou a ter suas primeiras casas onde hoje tem o campo de futebol. O nome da comunidade tem origem relacionado a outra comunidade vizinha conhecida como Salgado Grande, o nome Salgado também está relacionado às águas salobra que correm nos riachos da região. As suas casas no início do povoado eram humildes e eram feitas de taipa e cobertas com palhas de coqueiros.
Ao longo dos anos o povoado foi conquistando várias melhorias, no ano de 2000 a comunidade conseguiu o calçamento para algumas ruas, em 2015 foi construído um novo posto de saúde e em 2016 foi construída a quadra de esportes da comunidade. Os avanços não pararam, muitas famílias foram beneficiadas com as cisternas para captar a água da chuva. Os eventos culturais sofreram mudanças também, ainda não está bom, mas aos poucos tudo vai melhorando. Hoje nós temos energia elétrica, as famílias têm eletrodomésticas e internet.
Um ponto histórico do local é o “pavilhão” construído em 1998, local onde é realizada a feira, que acontece há mais de 30 anos todos os domingos. Outro ponto histórico é o caldeirão feito há quase 30 anos.
As atividades culturais mais marcantes da comunidade são: a festa do padroeiro da comunidade, São Sebastião que começou a mais ou menos 25 anos, a festa começa na igreja com a novena, quermesse repleta de comidas típicas e muita diversão. O último dia de festa termina com uma cavalgada e durante a noite uma festa com show ao vivo. Tem também a tradicional festa de São João, a festa de Santo Reis e outras ligadas as religiões de matrizes africana como candomblé e os carurus.
Houve alguns acontecimentos marcantes na comunidade, como nos anos 90 uma enchente carregou a senhora Ernestina e a filha que morreram tragicamente quando atravessavam um riacho. No mesmo ano aconteceu um eclipse, o dia ficou escuro, nunca tinha visto um fenômeno dessa magnitude na região.
A Escola Municipal Marcilio Teixeira foi construída em 2008, recebeu esse nome em homenagem ao Senhor Marcilio Teixeira, homem influente no início da comunidade, e a praça onde está localizada a feira recebeu o nome de Gervino Correia, principal doador das terras, assim os dois primeiros moradores foram homenageados. O primeiro vereador do povoado foi Erpide Teixeira. O caldeirão foi construído há mais de 25 anos pelo vereador Aurino José Ferreira, e foi muito útil para os moradores, principalmente quando não tinha as cisternas.


As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

quarta-feira, 19 de setembro de 2018

HISTÓRIA DO INCHÚ

Décima publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade do Inchú. Pesquisa desenvolvida por estudantes do terceiro do ensino médio da Escola Marcílio Teixeira, moradores da respectiva comunidade.


Anderson Almeida
Lucinete Maria dos Santos
Jaqueline de Jesus Gouveia
Rogaciano Xavier Porto Neto


A comunidade do Inchú foi fundada a mais de 150 anos atrás. Os primeiros cincos moradores que começaram a viver neste lugar eram viajantes. O nome Inchú tem origem por conta da comunidade está localizada em uma região com muitos maribondos. As primeiras casas eram feitas de taipa e cobertas de palhas de coqueiro. O meio de sobrevivência era o pó de palha e mel de abelha e planta de milho, feijão de corda e criação de pequenos animais. O tempo foi passando outras famílias como começaram a chegar como: Avelino José dias, Jovelino Frederico, Dilau, Manoel Beleza, Joaquim Torquato foram chegando e construindo as suas casas no lugarejo. Conta Dona Almerinda com 92 anos que a vida de antigamente era muito difícil a luz era de candeeiro de cera de mamona ou de cera de abelha, a água que bebiam era de cacimba tinha que ficar esperando minar para água encher suas vazilhas.
Imagem: Mapa da comunidade do Inchú, Manoel Vitorino, Bahia.
Imagem: arquivo do estágio

Segundo Otacílio José Dias com 78 anos, no ano de 1978 houve uma seca muito grande perderam toda a lavoura as criações morreram de fome e sede, foi um ano muito difícil. Os pais passavam necessidade para conseguir alimento para os filhos. Os pais saiam a procura de trabalho e trocavam o trabalho por feijão e farinha.
Senhor Everaldo Cascais que no ano 1960 houve uma enchente muito forte no qual encheram todos os rios, foram levadas cercas foi muito medo por parte dos moradores, as casas eram muito simples e começaram a ceder às paredes, os alimentos começaram a faltar e não tinha como comprar porque não passava nos rios. Foi feito pontes de pau e amarravam cordas para conseguir atravessar. Numa entrevista com Dona Angelina de Carvalho com 77 anos de idade que seu esposo saia para trabalhar e não tinha notícias por que o meio de comunicação era só através de cartas.
Com o passar dos anos a comunidade foi mudando no ano de 1998 foi beneficiada com a chegada da energia elétrica junto com ela foi chegando os televisores e outros elétricos eletrônicos. Outra conquista importante foi à construção do colégio. Antigamente as crianças e jovens estudavam em uma casa dos familiares, só dava pra aprender o básico. Na sequencias a construção da igreja.
Os avanços não pararam por aí, no ano de 2003 fomos beneficiados com obras que foram realizadas para o desenvolvimento e sustentabilidade da comunidade foram construídas cisternas para captar água da chuva. A construção do sistema de abastecimento de água encanado do poço artesiano.
Os avanços tecnológicos chegaram até aos meios rurais e a população do Inchú foi contemplada com a internet. Onde o meio de comunicação tornou-se mais fácil.
Os festejos culturais no passado eram bailes ao som de sanfonas que eram realizadas nas residências em casamentos e outras datas festivas também tinham as tradições da folia de reis que eram realizadas sempre no início do ano. Os eventos culturais sofreram algumas mudanças. Hoje as festas são realizadas nas praças ao som de bandas tocando ao vivo. São realizadas festas juninas com quadrilhas formadas por jovens.  Acontece também o forró da família que é realizado todo do mês de junho na praça, cavalgada, festa de São Joao Batista. Aos finais de semana jovens e adultos se reúnem no campo de futebol para jogar.


As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

terça-feira, 18 de setembro de 2018

A HISTÓRIA DA COMUNIDADE BOQUEIRÃO

Nona publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade do Boqueirão. Pesquisa desenvolvida por Maria Edna Santo e Jucilane Santos, estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Marcílio Teixeira e moradoras da comunidade.


Maria Edna Matos dos Santos
 Jucilane Porto dos Santos


A comunidade do boqueirão foi fundada por uma antiga moradora conhecida por “Maria Senhora”, foi ela a primeira pessoa a povoar a comunidade. A origem do nome boqueirão está relacionada a um vale entre duas montanhas, um local esculpido ao logo do tempo pela natureza. Daí que surgiu o nome “Boqueirão de Senhora”. Os primeiros moradores da comunidade foram Maria Senhora, João Cascais e seus filhos Timóteo e Manoel Cascais além de Maria Rita Sampaio e Anacleto Venâncio.
Imagem 1: Mapa da comunidade do Boqueirão, Manoel Vitorino, Bahia.
Fonte: arquivo do estágio, 2018

Após certo tempo Maria Senhora vendeu as terras para um homem do município de Boa Nova, mas no ano de 1926 as terras foram recuperadas por João Cascais, a partir daí a população foi aumentando. Até hoje a comunidade é formada por pessoas que pertence à mesma família.

Imagem 2: Mapa de Boqueirão de Dentro, Manoel Vitorino, Bahia.
Fonte: arquivo do estágio, 2018.

Alguns acontecimentos marcaram a história da comunidade, no ano de 1968 houve uma grande enchente provocada por uma represa que arrebentou e acabou alagando grande parte da comunidade. No final da década de 1940 aconteceu um eclipse solar que durou uma hora de completa escuridão.
A principal cultura que havia na comunidade era os “ternos de reis”, que era comandado por Silerino cascais. Hoje há apenas a festa da padroeira, que acontece todos os anos na igreja Santa Luzia e as cavalgadas.
Uma das principais conquistas da comunidade até hoje foi a energia elétrica, no ano de 1997. uma conquista também muito importante foi a construção da escola Timóteo Cascais, que foi construída no ano de 1976. A origem do seu nome é devido a Timóteo Cascais ter sido o primeiro professor da escola.  Nesse colégio além das aulas aconteciam missas, pois não tinha igreja, só no de 2008 foi construída a igreja Santa Luzia. Outra conquista para a comunidade foi a construção de estradas, fato que aconteceu no ano de 1976, realizadas pelo então prefeito Renato Vilar. Além disso a construção das cisternas para aproveitamento da água da chuva, que beneficiou todos os moradores.


As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

A HISTÓRICA COMUNIDADE DO RECREIO


Oitava publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história do Recreio. O texto mostra a grande história da comunidade que foi um ponto de parada para tropeiros durante o século XIX até meados do século XX.


Lívia Rodrigues Sampaio
Stefani Rocha Lira
Gabriela Cardoso de Lira A.
Simão Matias Souza

Situada a cerca de trinta quilômetros da sede do município de Manoel Vitorino a comunidade do Recreio traz consigo uma grande história. Assim como a referida cidade, a comunidade do Recreio teve origem a partir dos tropeiros, fato que também influenciou a origem do nome que inicialmente era Recreio dos Viajantes, por conta do local ser um pouso, ponto de parada e descanso dos tropeiros. Os primeiros moradores do Recreio foram o senhor Aprígio e sua esposa Angélica, estes vieram de um lugar conhecido como “Lagoinha”, depois veio outras famílias e a segunda mais velha é a dos irmãos José Estevo e Manoel Estevo. Vale ressaltar que inicialmente a comunidade não tinha muitos moradores fixos, pois grande parte deles eram comerciantes e não ficavam muito tempo no lugar. 

Foto: Igreja Nossa Senhora Aparecida, localizada na parte alta da comunidade do Recreio.
Imagem: Silvino Lopes

O tropeirismo teve grande importância no processo de ocupação e comércio, principalmente do gado de corte, em todo o Sertão da Ressaca até os anos 50 quando perdeu importância após a implantação das rodovias. Nesse contexto, a comunidade do Recreio foi fortemente influenciada por esses fatores, quando teve seu apogeu nesse período. Há cerca de 90 anos atrás existia na comunidade uma delegacia, cuidada por inspetor e um escrivão, padaria e armazéns onde comerciantes que vinham de longe vendiam tecidos, feijão, farinha, rapadura e toucinho, etc. mas com o declínio desse tipo de transporte os comerciantes foram embora e levaram seus comércios.
Dona Maria, relata que os moradores mais antigos diziam que era muitos tropeiros. Os viajantes vinham de outros lugares, saiam com suas mercadorias em burros, carros de boi viajavam para longe, ficavam dias e meses para conseguir vende-las. Naquele tempo o Recreio era um lugar tranquilo com muito mato e poucas casas, era uma ali outra lá mais distante.

Imagem 1: Cartografia da comunidade do Recreio, Manoel Vitorino Bahia.
Fonte: arquivo do estágio/Simão Santos, 2018.

A primeira igreja da comunidade foi construída a cerca de 120 anos pelo senhor José Epifânio e sua esposa Maria Antônia, juntos com outros moradores da comunidade, tem como padroeiro São João Batista. Nesse tempo era muito raro ter missa, as vezes levava anos para ter uma missa, pois era difícil para o padre se deslocar da cidade de Boa Nova para vir celebrar missa, tinha que ser a cavalo. para fazer um casamento tinha que deslocar a cavalo para comunicar-se com o padre par ele poder vir celebrar.
As poucas casas que tinham eram muito simples feitas de barro enchimento como diziam e cobertas de palha, daí foi aumentando com o passar dos anos. Com o passar dos anos foram surgindo mais casas e aumentando o número de moradores. Não tinha energia elétrica era candeeiro ou lampiões, as panelas e pratos eram de barro, tinha que buscar água na cabeça em potes de barro, as camas de vara e colchões de palha de bananeira. Nas épocas de seca tinha que ir esperar água minar, fazia fila uns vinham a noite e amanhecia o dia esperando na fila para que todos enchesse suas vasilhas. Naqueles tempos também não tinha energia elétrica, as pessoas usavam candeeiro e velas para iluminar suas casas.
TRADIÇÕES
Antigamente na comunidade as festas eram com tocadores de sanfona, violão, pandeiro e tambor ou caixa como diziam as pessoas dançavam até o amanhecer, principalmente em festas juninas, as mulheres se arrumavam todas com seus vestidos rodados e longos, os homens com seus ternos, as festas eram em casas de amigos. Existiam também as festas de Santo Reis, que eram comandadas por Florisvaldo e José Brito, os festejos iniciavam no dia primeiro de janeiro e terminava no dia seis de janeiro.
Namoro de antigamente
De acordo com algumas pessoas mais velhas o namoro de antigamente era um de lá e outro de cá, só se olhava de longe. Em alguns casos eram alguns pais que escolhia o noivo para os seus filhos e tinha que se casar com aquele ou aquela que seus pais escolheram. Tinham que respeitar a vontade de seus pais, querendo ou não eram obrigados a se casar. Quando o noivo queria ver sua noiva tinha que ir até a casa com a presença de seu pai, não tinha beijo, nem abraço ficava ali conversando com seu pai e ficavam se olhando só de longe, um de lá e outro de cá, nem beijo nem abraço, quando saia que beijava na mão da noiva ou namorada. E quando se casava dava um beijo na testa da noiva. Podemos observar que a comunidade, assim como todo o município de Manoel Vitorino tem fortes raízes de uma cultura patriarcal, onde os pais e chefes de família tinha e até hoje tem um certo poder de subjugar principalmente as mulheres aos seus interesses.

Imagem 2: Cartografia social da comunidade do Recreio, Manoel Vitorino, Bahia. Turma 3º ano vespertino.
Fonte: arquivo do estágio/Lívia Sampaio, Stefani Lira e Gabriela Lira, 2018.
A comunidade também tem suas tradições, tal como a construção anual do pavilhão para as festas juninas, a festa da cavalgada, a festa de nossa senhora aparecida, a festa de reis e o jogo bola de pau. Mas há algumas tradições que se enfraqueceu com o tempo e que não são mais praticadas, tais como, a marcha de 07 de setembro, a tradição do bumba meu boi, pau de sebo, e a feira, que era a mais antiga da região além das quermesses juninas.
A ESCOLA
Antigamente não existia escola, as professoras davam aulas em casas cedidas pelos moradores. Poucas crianças iam as aulas nesse tempo, pois grande parte dos pais não deixavam estudar porque eles tinham que ir as roças ajuda-los no trabalho. As primeiras professoras se chamavam Madalena e Elisabeth e o professor Manoel Obídio. para estudar naquele tempo não tinha idade certa era quem queria aprender, era crianças pequenas outras já maiorzinhas outras os pais não deixavam, tinha que ir trabalhar na roça.
Ao passar dos anos construiu uma pequena escola, por volta do ano 1964, esta não tinha carteiras, os estudantes sentavam em bancos de madeira ou até mesmo no chão, pois não dava para todos sentar. A escola recebeu o nome de Jorge Vaz, por que esse homem era um representante do Recreio, ele sempre estava envolvido em tudo que acontecia, desde as novenas nos festejos em comemoração ao padroeiro até as festas juninas.
MAIORES ACONTECIMENTOS
O maior acontecimento da comunidade foi a enchente de 1914 que matou muitos animais e matou três crianças, além de destruir uma das obras mais antigas da comunidade, um açude construído por seu Aprígio utilizando madeira e terra no local conhecido como Lagoa Grande. Algumas pessoas mais velhas disseram que já teve uma ocasião de cair neve por dois dias. No ano de 1998 teve uma geada que matou muitos animais.
MUDANÇAS
Com o passar dos anos a comunidade passou por algumas transformações. No ano 2000 com o surgimento da energia elétrica mudaram bastante coisas, as festas mais iluminadas, som, a escola também cresceu. Hoje tem mercados, poço artesiano, água encanada, três igrejas duas novas e uma antiga, todas as crianças estão na escola desde os quatro anos de idade, todos os meses tem missa que antes não tinha. O padre vem de carro, não de cavalo como antes, quase todos tem carros ou moto para se deslocar a outros lugares, casas mais modernas, todos tem televisão, rádio e várias outras tecnologias como telefone, internet etc. também tem um pequeno campo de futebol.
Enfim, nesse recorte histórico que objetivou-se trazer aqui podemos observar que a comunidade atravessou vários períodos históricos, e nesse processo ocorreram grandes transformações políticas, sociais e econômicas que mudaram drasticamente o modo de vida e a cultura do lugar. Nesse processo, esperamos aqui poder ter contribuído na manutenção de parte da memória histórica da comunidade do Recreio.

As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.

segunda-feira, 20 de agosto de 2018

COMUNIDADE DO VINTE E UM: HISTÓRIA

Sexta publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" traz a história da comunidade do Vinte e Um. Pesquisa desenvolvida Rafaela Lopes Rocha e Júlio Rodrigues da Rocha, estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira.



Rafaela Lopes Rocha
Júlio Rodrigues da Rocha


A comunidade do Vinte e Um está situada na região do Salgado, Manoel Vitorino, Bahia. Segundo alguns relatos, os primeiros habitantes foram Jovina Cascais e Henrique Cascais, estes vieram morar na região no início do século XX. 
Há duas versões sobre a origem do nome Vinte e Um, todas relacionadas ao riacho que atravessa a comunidade. A primeira versão diz que o nome é por conta de o riacho ter vinte e uma voltas (curvas) no perímetro que compreende a comunidade. A segunda versão relaciona a origem do nome Vinte e Uma, número de pedras que eram usadas para ajudar os moradores a atravessar o riacho que ficava alagado no período de chuvas.  

Imagem 1: Cartografia representando a comunidade do 21, Manoel Vitorino, Bahia.
Foto: arquivo do estágio/Rafaela Rocha e Julio Rocha, 2018.

A comunidade tem várias atividades culturais, destacamos aqui a festa do Sagrado Coração de Jesus, padroeiro da comunidade, comemorado todos os anos no mês de junho. Também no mês de junho tem as tradicionais festas juninas, com muita fogueira e a quadrilha. A festa de Santo Reis, onde os foliões conhecidos como reizeiros que saem de casa em casa cantando e mantendo a tradição durante os primeiros seis dias do mês de janeiro. Além destas destacamos as cavalgadas de final de ano, todas essas atividades culturais vão passando de geração a geração e se transformando em tradição.
Por outro lado, na comunidade também vem se perdendo várias atividades culturais, como por exemplo, os forrós que os moradores faziam nas casas, conhecidas também conhecido como bailes, tinha as cantigas de roda, atualmente as crianças não brincam mais. Não tem mais as rezas a “Cosme e Damião”.
Nesse percurso, vários acontecimentos marcaram a história da comunidade, em conversa com moradores eles relataram que aproximadamente vinte e cinco anos atrás um eclipse solar deixou o céu todo escuro, os moradores ficaram com medo do mundo acabar. Há trinta e cinco anos aconteceu uma tempestade com ventos fortes, onde arvores caíram, cercas quebraram etc.
A associação de moradores também foi um marco importante, com ela a comunidade teve acesso a projetos como cisternas, poço artesiano. Mais recentemente a comunidade foi contemplada com um projeto de extrativismo do coco licuri, palmeira comum na comunidade, nesse projeto as amêndoas do coco, anteriormente sem uso, serão aproveitadas para extrair o óleo, fazer cocadas, ração animal etc., aumentando assim a renda das famílias envolvidas. A associação, nesse sentido, proporcionou que a comunidade tivesse mais autonomia, conhecimento e formado parcerias com instituições que vem contribuído para o desenvolvimento de todas pessoas envolvidas, principalmente os pequenos agricultores.
Nesse período histórico a comunidade teve várias conquistas como podemos destacar a energia elétrica no ano de 2006. Mais recentemente o acesso a internet que proporcionou aos moradores o acesso a um mundo de informação e facilitou a comunicação com pessoas de fora da comunidade. Outra conquista que ajudou a comunidade foi operação carro pipa que coloca água para todos.



As histórias apresentadas nesta série fazem parte das atividades de pesquisas desenvolvida pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.


sábado, 18 de agosto de 2018

COMUNIDADE SERRA GRANDE: TECENDO A HISTÓRIA

Quinta publicação da série "A História Local e o Meu Lugar na História" apresenta a história da comunidade Serra Grande. O texto traz alguns recortes da historiografia local, identificando marcos da presença indígena, primeiros moradores do local, no século XVII, o inicio do processo de colonização e extermínio dos povos indígenas com o bandeirante João Gonçalves da Costa nos séculos XVIII e XIX, a emigração dos ancestrais dos moradores atuais no inicio do XX e traços que influenciaram a cultura e modo de vida da comunidade nos dias atuais. Pesquisa desenvolvida por Fernanda Sampaio, Renata Lopes, Everton Silva e Caio Brito, estudantes do terceiro ano do ensino médio da Escola Municipal Marcílio Teixeira.


Fernanda Macedo Sampaio
Renata Imaculada Macedo Lopes
Everton Fulgêncio da Silva
Caio Silva Brito

Serra Grande é uma comunidade localizada a cerca de 36 quilômetros da sede do município de Manoel Vitorino, Bahia. Situada em uma área de transição entre a mata atlântica e caatinga, região de ecótono conhecida popularmente como mata de cipó, apresenta espécies típicas dos biomas caatinga e floresta atlântica, além de espécies próprias. “Tal fato credencia as matas de cipó como corredores naturais para estabelecer o fluxo gênico entre populações de plantas e animais, assegurando a conservação in situ de diversas espécies da flora nordestina” (MACEDO, 2007).

Foto 1: Vista panorâmica da comunidade Serra Grande, Manoel Vitorino, localizada no Sertão da Ressaca no sudoeste da Bahia.
Foto: Silvino Lopes, 2016.
A região do Sertão da Ressaca, entre o Rio Pardo e o Rio de Contas, área onde está localizada a comunidade foi habitada por indígenas das tribos Pataxó, Mongoyó e os Ymborés (OLIVEIRA, 2012, p. 18). Embora haja poucos indícios da sua presença, na comunidade fruteira, à três km de Serra Grande, foram encontrados em uma área com os resquícios de várias peças cerâmicas de origem indígena, vestígios esses que por conta de os moradores desconhecer o valor antropológico e arqueológico foram sendo destruídos ao passar do tempo. Esses achados reforçam ainda mais a ideia de que o local fora habitado pelos índios das tribos citadas, esses povos eram conhecidos por sua habilidade com o barro, como menciona Oliveira (2012) em sua tese, eram conhecidos como os índios paneleiros.
A ocupação da área onde hoje é o município de Manoel Vitorino pelos colonos iniciou-se após a decadência e esgotamento das minas de ouro em Minas Gerais, até então essa região era estrategicamente pouco explorada para dificultar o contrabando de ouro a quem pretendia fugir dos autos impostos cobrados pela coroa. Nesse período a região servia de reduto para indígenas e escravos que fugiam de outras áreas mais exploradas.
A invasão foi iniciada, de forma definitiva, em meados do século XVIII pelo então bandeirante João Gonçalves da Costa que começou o processo de expulsão e extermínio dos índios que habitavam essa região. Esse processo tinha também como objetivo abrir um caminho entre Minas Gerais e a capital Salvador, para o transporte de mercadorias e deslocamento de grandes boiadas vindas do sertão (OLIVEIRA, 2012).
No ano de 1806, o bandeirante João Gonçalves da Costa instalou-se na fazenda Cachoeira, onde hoje é a sede do município de Manoel Vitorino, de sua propriedade (OLIVEIRA. 2012, p. 63). O Príncipe Maximiliano de Newied, naturalista, etnólogo e explorador alemão, em sua expedição ao Brasil no início do século XIX, relata ter passado a noite na casa do então sertanista e menciona ter o encontrado, o espantoso sujeito, descansando em sua casa na fazenda Cachoeira, atual Manoel Vitorino, rodeado por escravos e índios mansos no ano de 1817 (OLIVEIRA,2012; PARAISO, 2011).
O principal evento que colaborou para a efetiva ocupação da região foi atividade pecuarista, que contribuiu para a fixação do colonizador à medida que se estabeleciam fazendas de gado. Essa atividade, inicialmente, como observado pelo príncipe Maximiliano na fazenda cachoeira, envolvia o trabalho de negros escravizados e índios que eram obrigados a abrir caminhos e cuidar dos animais. Nesse contexto, podemos encontrar na comunidade vestígios de obras construídas por escravizados a mando de seus senhores, a mais importante destas está localizada em uma área montanhosa ao sul da comunidade de Serra Grande.
No local à uma grande vala escavada, atravessando verticalmente parte de um morro. Segundo relatos de alguns moradores esse era um tipo de cerca usada para dividir  e impedir que animais ultrapassassem o limite das propriedades. A obra supostamente foi construída por escravos,  e atualmente encontra-se castigada pela ação do tempo.
Das famílias que residem atualmente na comunidade Serra Grande parte dos ancestrais vieram para comunidade no final do século XIX, vindos principalmente do lugar conhecido como Lage do Gavião, lugar que fora citado em diversos documentos e autores como área de grandes conflitos envolvendo indígenas e tropas bandeirantes. Outras famílias relatam ter origem de lugares onde hoje é o município de Caetanos, além de menções da Chapada diamantina e de localidades onde hoje é o município de Ibicuí.
Os primeiros moradores da comunidade eram pastores de ovelhas, agricultores, outros vaqueiros que trabalhavam para coronéis da época. Um deles era conhecido como Pedro Afonso, cuja a casa grande localizava na fazenda Cúpido, hoje pertencente ao município de Boa Nova, Bahia. A propriedade do então coronel, no final do século XIX, abrangia parte da extensão territorial onde atualmente é a comunidade Serra Grande.

Imagem 1: Cartografia (mapa) da Comunidade Serra Grande, Manoel Vitorino, Bahia.
Fonte: arquivo do estágio, 2018.

No início do século XX parte das terras onde hoje é a comunidade da Serra Grande foram compradas do coronel Pedro Afonso por Silvino Rodrigues em troca de trabalho e algumas cabeças de gado. Hoje as terras da comunidade pertencem a vários donos, isso porque foram vendidas ou herdadas por novas gerações da sua família.
Sobre a origem do nome Serra Grande há algumas possíveis explicações, como por exemplo, a comunidade está situada em uma área montanhosa, com a altitude em alguns lugares ultrapassando os 900 metros. Não foi possível identificar quando realmente a comunidade recebeu esse nome, alguns moradores dizem que seus pais relatavam que há muito tempo atrás o local era conhecido como “Serra de Mané Lopes” e outra parte da comunidade “Serra de Carolina” em referência a uma senhora que morava por lá. Nesse sentido, embora a relação destes com a posse da terra seja desconhecida, pode-se afirmar que estes eram antigos moradores do local, e dessa forma, o nome da comunidade viria a ser apenas uma adaptação desses antigos nomes.
Historicamente a base da alimentação da comunidade foi a mandioca, mas, além dessa, outras culturas também se destacam como: a pecuária, o milho, o “feijão d´arranca” (carioquinha), abobora, a fava, além de outro grande número de espécies. Nesse contexto, podemos destacar a presença de pequenos engenhos, no início do século XX, onde era produzido rapadura e outros derivados da cana de açúcar. Em meados do século XX, houve na comunidade a corrida pelo pó de palha, onde quase todos os moradores estavam envolvidos no extrativismo do licurizeiro. Esse produto era vendido para ser usado na fabricação de plástico.
Os moradores mais antigos relatam que antigamente a comunidade era tomada por grandes faixas de matas onde encontrava fartura de água, eram comuns encontrar macacos e uma infinidade de outras espécies de animais silvestres. Atualmente a comunidade está em estágio avançado de antropização, restando pequenas de faixas de vegetação nativa com um nível razoável de preservação. Observa-se grandes áreas desmatadas para uso na agricultura rápida e plantio de pastagens, esse fato é agravado pelo fato de os solos serem rasos e grande parte da região ter um relevo forte ondulado.

A PRIMEIRA ESCOLA...

Até o início da década de 1970 a comunidade não tinha nenhum tipo de educação ofertada pelo estado, até então não havia escolas na região, as poucas crianças que conseguiam algum tipo de educação eram alfabetizadas em casa, isto é, quando os pais conseguiam pagar professores particulares para ensinarem aos seus filhos o básico como ler, escrever e fazer cálculos. O mais conhecido professor da época chamava-se Almançor Cangussu, filho do antigo Coronel Pedro Afonso, citado anteriormente.
No final dos 1970 os moradores começaram a ser alfabetizados pelo MOBRAL, Movimento Brasileiro de Alfabetização um programa criado em 1970 pelo governo federal com objetivo de erradicar o analfabetismo do Brasil em dez anos. O Mobral propunha a alfabetização funcional de jovens e adultos, visando “conduzir a pessoa a adquirir técnicas de leitura, escrita e cálculo como meio de integrá-la a sua comunidade, permitindo melhores condições de vida”. O programa foi extinto em 1985 e substituído pelo Projeto Educar.
O primeiro prédio escolar foi construído logo após a extinção do MOBRAL, na antiga fazenda Água Branca, próximo a comunidade, e recebeu o nome de Almançor Canguçu, em homenagem ao primeiro professor da região. Após certo período funcionando nesse local a fazenda entrou em declínio e grande parte dos moradores migraram para outras regiões. A sala onde funcionava a escola, por falta de manutenção começou a se deteriorar, trazendo riscos para os estudantes, então a professora transferiu a local de ensino para a sua própria casa, localizada mais ao centro da comunidade. Durante esse período a escola teve vários professores como Noemi Santos, Jovelina Macedo, Adevanir Macedo e Nelsinda Rodrigues Brito.

Foto 2:  Estudantes comemorando as festas junina na escola Almançor Cangussu, Fazenda Água Branca, Manoel Vitorino, Bahia, no ano de 1982. Ao fundo com o chapéu a professora Adevanir Ribeiro.
Foto: Reprodução

Nelsinda Rodrigues de Brito foi uma das primeiras professoras da escola Almançor Cangussu, atualmente está aposentada e reside na comunidade Serra Grande. No texto a seguir ela narra sua trajetória desde a chegada de sua família a comunidade até sua aposentadoria.
Antigamente na região não havia escola. As pessoas pagavam aulas particulares em casa. Um dos mais antigos moradores e primeiro professor que se tem conhecimento chamava-se Almançor Cangussu, este homem ensinou muito tempo nesta região”. Era muito sabido e ficou muito conhecido. Ao passar do tempo foi embora da região, que ficou novamente sem professores.
Em 1973, Policiano Rodrigues Filho de Silvino Rodrigues que morava no interior de São Paulo, na cidade de Santa Anastácia veio embora com sua família. Chegando na região os filhos de Policiano ficaram sem estudar pois não havia escola nem professores. Eu era a única filha dele que era estudada, então os pais das crianças passaram a me pagar para dar aulas particular, assim comecei minha jornada como professora.
Alguns anos depois, há convite do prefeito passei a ensinar pelo MOBRAL, em uma sala de aula improvisada na casa de meu avô Silvino Rodrigues. Alguns anos depois o então prefeito Renato Vilar construiu uma pequena sala de aula na fazenda Água Branca onde continuei a lecionar (antes de Nelsinda passar lecionar na escola Adevani Ribeiro foi professora por um curto período). Está pequena escola recebeu o nome de Almançor Cangussu em homenagem ao primeiro professor da região. Nesta época ser professora era enfrentar uma batalha todos os dias, eu lecionava nos turnos matutino e vespertino em uma sala superlotada com crianças, multisseriadas, faziam a merenda para as crianças, buscava água, lenha de longe para fazer a merenda e fazia a limpeza da escola. Com pouco tempo a sala de aula foi caindo aos poucos até que foi ao chão, passei a ensinar em minha casa. Em 2000 foi construída uma pequena sala de aula na Fazenda Serra Grande que continua com o mesmo nome da antiga escola Almançor Cangussu.
Tive uma vida sofrida, me considero uma mulher batalhadora, hoje estou com a mente cansada e abatida pelo tempo, em 2014 consegui me aposentar por um salário muito baixo. Só me restou muitas saudades das crianças e de todos os meus colegas de longas datas. “mas Deus é tão bom que vai me recompensar por todas as minhas lutas, só ele é por todos". Que saudade que não acaba mais... Aqui fica minha despedida com uma pequena canção.

É o tra lá lá lá ôôô (3×)
As flores já não crescem mais
Até o alecrim secou
Lambari morreu, sapo se mudou
Porque o ribeirão secou.
É o trá lá lá lá ôôô


A Escola Municipal Almançor Cangussu continua ativa até os dias atuais. Atende crianças do primeiro ao quinto ano do ensino fundamental, da Serra Grande e comunidades vizinhas. Em 2013 passou por uma reforma onde foram acrescentados cantina, banheiro e uma cisterna de 52 mil litros de água . Com apenas uma sala de aula sua aparência é simples, pequena e já sofre com os desgastes do tempo.  Atualmente conta com seis funcionários, incluindo duas professoras, merendeira, faxineira e motoristas. Continua sendo uma escola multissériada com cinco níveis de ensino ao mesmo tempo.

CULTURA REGIONAL...

A grande maioria dos moradores da comunidade são católicos, mesmo não participando ativamente da igreja cada um tem sua forma particular de viver sua fé, e é comum haver na casa dos mais velhos altares destinados a oração.
 Os eventos mais importantes são: São João, Santo Reis, Semana Santa e os festejos do padroeiro São Francisco de Assis que acontecem anualmente na igreja da comunidade vizinha Fruteira.
Sem dúvidas as festas juninas são os eventos mais esperados do ano na comunidade. É um evento repleto de costumes antigos. As casas eram e ainda são enfeitadas com bandeirolas e balões feitos artesanalmente. No período das festas os moradores também enfeitavam uma árvore chamada “árvore de São João”, está lembra um pouco a tradicional árvore de natal, cultura que ainda pode ser encontrada em algumas casas. Estas árvores ficam expostas durante todo o ano e a cada São João são queimadas junto com a fogueira e substituída por uma nova.
No dia 23 do mês de junho acontece o chamado “dia da fogueira”, após o pôr do sol as fogueiras são acesas e ocorre a queima de fogos. Na manhã do dia 24 é tradição acordar cedo e fazer o café da manhã e assar batata doce nas brasas das fogueiras. Nandinalva Rodrigues (2016), conta que antigamente haviam muito mais “brincadeiras”, além desse fato não ouve mudanças significativas no modo de comemoração.
Comadre de Fogueira...
            Antigamente existia um costume muito peculiar no “dia da fogueira’, eram as chamadas “comadre/compadre de fogueira”. Duas pessoas tinham que literalmente pular a fogueira juntas e dizer o seguinte verso:
São João dormiu,
São João acordou,
Salta fogo minha comadre.
São João não mandou.
A partir desse dia eram consideradas comadres. Havia toda uma reverencia entre elas, passavam a respeitar uma a outra e quando uma das comadres se casava passava chamar o marido da outra de compadre também. Hoje em dia não praticam mais esse costume, mas ainda existem comadres de fogueira.
Festa dos Santos Reis...
A festa de santo Reis é uma manifestação religiosa no intuito de rememorar a atitude dos três Reis magos que partiram em uma jornada a procura do esconderijo do prometido messias para prestar lhe homenagem e dar lhe presentes.
Os grupos de foliões saem nos chamados “ternos de Reis”, trajados com roupas e chapéus enfeitados com flores, ramos e fitas. Ao chegar nas casas que os recebem, o primeiro a entrar é o folião com o santo, geralmente em uma caixa de papelão enfeitada com flores e fitas onde contém imagens dos Santos Reis. Cantam e tocam músicas de louvor a Jesus em volta do presépio. Ao final recebem uma doação do morador, que pode doam alimentos, bebidas ou dinheiro, estes são usadas para a festa final ou reza realizada em 6 de janeiro, dias dos Reis Magos na casa do líder do grupo.

Foto 3: Grupo de Reis cantando em casas da comunidade no ano de 1998.
Foto: reprodução

Festas...
Nandinalva Rodrigues conta que antigamente aconteciam muito mais festas nas casas da região como sambas e os forrós conhecidos também como bailes. Segundo ela era comum as pessoas se reunirem para cantar cantigas de roda e fazer brincadeiras. As festas de casamento eram diferentes de hoje. Numa época em que só havia o casamento no religioso a festa já começava na véspera ou “Bespa” como é conhecido. No dia do casamento quando voltavam da igreja, para a cada onde seria realizada a festa, a chamada “chegada dos noivos” era recebida com a seguinte canção:
Saiam fora gente,
venha vê o noivado,
eles foram solteiros
e voltou casado...
Quando os noivos passavam pela porta da frente recebiam uma chuva de perfumes, confetes e arroz. Na tradição os noivos tinham que dar três voltas na casa para terem sorte na união. a festa durava o dia e noite inteira, sempre com muita comida e música, dançavam até o dia amanhecer.

Campo de Futebol...
Como em quase todo lugar do Brasil aqui na comunidade também tem um campo de futebol. Claudionor Ribeiro conta que por volta de 1960 construíram o primeiro campo de futebol. Alguns anos depois o campo passou a ficar muito pequeno para todas as pessoas que jogavam, então na década de 70 transferiram o campo para o local onde está até hoje. Até os dias atuais o futebol continua sendo a principal atividade de lazer dos jovens da comunidade.
  
Foto 4: Integrantes do time de Serra Grande posam para foto ao lado de dois bodes, prêmios ganho em um torneio na comunidade de “Breginho”, no município de Mirante no ano de 2000.
Foto: Reprodução
Períodos de estiagem...
A região sofria muito os efeitos do período de estiagem, a falta de água era grande. Adevaneide Ribeiro, conta que numa certa época, para conseguir água era preciso acordar três horas da manhã, pegavam os jegues e colocavam as cangalhas e os baldes e desciam a serra com uma lanterna feita com litro, usada para iluminar o caminho até a nascente, onde enchiam os baldes e voltavam para casa. Caso chegassem tarde não encontrava água, porque outras pessoas já tinham pegado, caso contrario era necessário esperar a água minar novamente. Ela conta que a água desse miradouro não era de boa qualidade, era uma água com aspecto enferrujado, sua família usava apenas para tomar banho lavar roupa e na limpeza da casa, mas algumas famílias não tinham outro meio de encontrar água potável e usavam dessa água para beber.
Existia um olho d’água na comunidade vizinha, a água que minava lá era boa para o consumo humano. Adevaneide conta que no começo algumas pessoas passavam a noite esperando a água minar e dessa forma alguns ficavam sem água. Passados certo período, após alguns problemas, fizeram uma construção e passaram a trancar a água, toda manhã abriam a cacimba mediam a água e distribuía igualmente para as famílias, a água recebida seria a água usada para beber no decorrer daquele dia.
Nas épocas de seca, conta Maria Ribeiro, os animais bebiam em uma nascente conhecido como “Margosa”, nome do riacho de Antônio bento ou na Salgadinha, ambos eram minadouros de água salgada, e tinham esses nomes em referência as características das suas águas. Quando não haviam mais pastos suficientes davam aos animais as vagens do pau de ferro e a palha do coqueiro licuri como ração.

Mudanças e conquistas: A comunidade atual

Atualmente a região passa por secas e períodos de estiagem anualmente, mas os moradores não são afetados como antes, não há mais a necessidade de percorrer longas distâncias em busca de água. Em 2010 num projeto do governo junto com a ASA, foram construídas em todas as residências cisternas que captam água da chuva com capacidade de armazenagem de 18 mil litros de água, garantem água potável durante praticamente o ano todo. A comunidade também é beneficiária da operação carro-pipa um projeto criado pelo governo federal que tem como nome oficial Programa Emergencial de Distribuição de Água. Seu objetivo principal é levar água para consumo humano nas áreas afetadas pela seca.
Em 2009 aconteceu a instalação da energia elétrica na comunidade sem dúvidas provocou muitas mudanças na forma de vida. Foi o fim da era dos lampiões a gás, candeeiros e velas. Os meios de comunicação melhoraram muito passaram das cartas para os telefones e mais recentemente os Smartfones com acesso à internet.

            Enfim, nesse longo período de história ao qual objetivou-se aqui trazer alguns recortes, podemos observar que a comunidade atravessou vários períodos históricos, e nesse processo ocorreram grandes transformações políticas, sociais e econômicas. Pode-se observar que as mudanças mais drásticas que provocaram e provocam grandes efeitos nas características ambientais e físicas da comunidade foi a nova forma de ocupação do espaço imposta com chegada dos colonizadores.


As histórias fazem parte das atividades de pesquisas feita pelos estudantes do terceiro ano do ensino médio, turma 2018, promovido por estudantes da Licenciatura em Educação do Campo através do  estágio intitulado de “A História Local e o Meu Lugar na História”, que teve por intencionalidade unir os conhecimentos elaborados na educação formal e não formal através das pesquisas sobre a história local, da comunidade de cada estudante, buscando estimular a curiosidade, abordando de forma interdisciplinar temas como formação territorial, cartografia e história local.