quinta-feira, 12 de outubro de 2017

A Escola Marcílio Teixeira recebeu nesta última quarta-feira a III Edição dos Jogos Estudantis Internos

A Escola Municipal Marcílio Teixeira através da Prefeitura de Manoel Vitorino e da Secretaria Municipal de Educação realizou na última quarta-feira a III Edição dos Jogos Estudantis Internosn no Povoado do Salgado.
O evento contou com a participação de várias escolas do município, competindo em várias modalidades esportivas como: futebol, futsal (feminino e masculino), baleado, etc. 

      Foto: Marlene Costa
      Foto: Marlene Costa

segunda-feira, 9 de outubro de 2017

Estudantes Bolsistas do PIBID Diversidade apresentam experiências agroecológicas de camponeses Manoel Vitorinense em Brasília

Descrição do modo de vida de uma família camponesa em Manoel Vitorino, Bahia, Brasil

Esse artigo foi apresentado no V CONGRESSO LATINO-AMERICANO DE AGROECOLOGIA que aconteceu na cidade de Brasilia-DF no mês de agosto de 2017, tinha por finalidade compreender o modo de vida da família Ribeiro, que desenvolve atividades produtivas baseadas na agroecologia pautando o fortalecimento da segurança alimentar, o trabalho tem como objetivo identificar os processos de adaptação e manutenção das práticas agrícolas, além de abranger toda a organização que está em torno da família como o contexto social e cultural de onde vivem de onde vivem e as questões de gênero na divisão do trabalho e renda dentro da estrutura familiar. A pesquisa foi realizada através da metodologia qualitativa de estudo de caso e dividida em duas etapas: Pesquisa bibliográficas, coleta de dados através de conversa informal, e vivencias em atividades diárias. Dessa forma, pode-se observar a importância dos camponeses no desenvolvimento de práticas agrícolas adaptadas ao seu ecossistema e na afirmação/evolução à agroecologia.

      Foto: Silvino Lopes

Introdução

A agricultura familiar é responsável por grande parte da produção dos alimentos consumidos no Brasil. Dentro desse contexto, a agricultura familiar camponesa abrange além da produção várias outras dimensões e princípios que estão presentes na agroecologia, e a partir delas os camponeses se desenvolvem socialmente, culturalmente, politicamente, etc., adaptando as especificidades da região onde vivem. Sobre isso Altieri salienta que ao longo dos séculos, gerações de agricultores desenvolveram sistemas agrícolas complexos, diversificados e localmente adaptados. Com o passar do tempo, esses sistemas foram manejados, testados e aprimorados por meio de práticas engenhosas, muitas vezes conseguindo garantir a segurança alimentar da comunidade e a conservação da biodiversidade e dos recursos naturais (2012, p.159).

No Nordeste brasileiro a abrangência da agricultura familiar é ainda maior, segundo dados do Censo Agropecuário de 2006, 84,4% do total dos estabelecimentos agropecuários brasileiros pertencem a grupos familiares. São aproximadamente 4,4 milhões de estabelecimentos, sendo que a metade deles está na Região Nordeste (IBGE, 2006). Considerando esses números, a agroecologia ainda é carente de pesquisas voltadas a descrever o modo de vida e as práticas agrícolas desses agricultores. Nesta perspectiva, este estudo buscará contribuir na construção desse conhecimento.
Enfim, esta pesquisa buscará compreender o modo de vida desta família, identificando os processos de adaptação e manutenção das práticas agrícolas tradicionais, além de compreender toda a organização que está em torno da família como o contexto social e cultural de onde vivem e as questões de gênero na divisão do trabalho e renda dentro da estrutura familiar.

     Foto: Silvino Lopes

Metodologia

As observações e reflexões elaboradas neste texto partiram das pesquisas realizadas com uma família campesina no sudoeste do estado da Bahia. A intenção era compreender o modo de vida da família, nessa perspectiva, tentar identificar como a família pode contribuir na construção do conhecimento acerca do campesinato e Soberania Alimentar dentro dos princípios da agroecologia. As pesquisas foram realizadas na propriedade da família Ribeiro, localizada na comunidade da Fruteira a cerca de 39 km da sede do município de Manoel Vitorino-BA, que possui uma população de 14.390 pessoas, destas, 49% da população do município reside na zona rural (IBGE, 2006). A comunidade Fruteira é composta predominantemente por agricultores familiares e está localizada em uma área de transição entre a caatinga e mata atlântica, com a vegetação primária de floresta estacional semidecidual, (Mata-de-cipó).
Os instrumentos utilizados foram: estudos bibliográficos em livros, revistas e sites especializados e artigos científicos; conversa informal para coleta de dados primários; observação direta, além de vivências de campo nas atividades da família, com permanência nos locais durante o tempo de realização das pesquisas. Dessa maneira, foi possível participar do cotidiano da família e estabelecer interações que permitissem identificar aspectos não contemplados inicialmente, permitindo-o compreender os vários níveis de organização e formação cultural dos envolvidos.

Resultados e discussão

Seguindo o pensamento de Altieri, onde diz que as pequenas propriedades rurais são a chave para a segurança alimentar mundial (2012. p.363) buscou-se conhecer e compreender como uma família camponesa do semiárido sustenta-se e se estrutura dentro desse contexto.
A família Ribeiro é constituída por quatro pessoas, e possui uma propriedade de 47 hectares, destes, cerca de 4 hectares é utilizado para culturas agrícolas em forma de consórcio, o restante é utilizado na criação de animais na forma de pastoreio. A área cultivada possui uma grande variedade de culturas, dentre elas: feijão, milho, abóbora, maxixe, melancia e mandioca. Outros que merecem destaque são, o arroz, maracujá-do-mato, licuri, alho e cebola crioula, pois segundo o agricultor essas variedades são adaptadas à sua região. De acordo com ele, além da produção e do manejo ser bemmais fácil que a convencional, essa tradição é mantida há muito tempo, desde seus pais, assim, ele continua plantando e guardando as sementes. Desta forma, são uma das poucas famílias que cultivam estas variedades na comunidade. Segundo Thurston, as variedades crioulas são geneticamente mais heterogêneas do que as modernas e podem oferecer um amplo leque de defesas contra vulnerabilidades (THURSTON apud ALTIERI, 2012).
Esses agroecossistemas diversificados foram se estabelecendo ao longo de séculos de evolução cultural e biológica e representam o acúmulo de experiências de camponeses interagindo com o ambiente, sem acesso a insumos externos, capital ou conhecimento cientifico (FRANCIS apud ALTIERI, 2012). Para Altieri (2012), uma das características marcantes desses sistemas de agricultura tradicional que ainda prevalecem é o alto nível de biodiversidade. Ainda sobre isso, Wilken e Denevan (1987) acrescenta que:
Ao lançar mão dessa autonomia inventiva, do conhecimento experimental e dos recursos localmente disponíveis, os camponeses têm frequentemente desenvolvido sistema de produção adaptados às condições locais, permitindo aos agricultores obter uma produtividade sustentável para satisfazer suas necessidades, apesar do precário acesso a terras de qualidade e do baixo uso de insumos externos (WILKEN; DENEVAN apud ALTIERI, p. 160).
A família utiliza várias técnicas no preparo do solo, dentre elas a adubação orgânica utilizando esterco, compostagem, cobertura morta e “Biogel” um composto feito com esterco fresco bovino. Para Silva, a adição de compostos orgânicos tem contribuído para a excelência da qualidade do solo, que especialmente nos cultivos orgânicos tem promovido sustentabilidade nesse sistema de produção (2015, p. 44). Outras tecnologias utilizadas pela família como Cisterna Calçadão, barreiros e tanques de pedra para armazenagem de água permitem a produtividade durante o período de estresse hídrico, onde investem na produção de hortaliças e verduras de forma orgânica.
Além das práticas agrícolas a família cria vários animais como bovinos, suínos, aves, etc. Para a manutenção do rebanho bovino eles contam com grande parte da sua propriedade, que está dividida entre áreas de pastagens e vegetação natural. No período de estiagem, a complementação alimentar para os animais é feita através do cultivo da palma forrageira e uma capineira.
Dentre outras práticas utilizadas pela família, esta a manutenção da vegetação nativa e a preservação das fontes de água (nascentes). No quintal é cultivada uma grande variedade de plantas nativas e medicinais, exteriorizando um amplo conhecimento sobre as espécies e suas formas de uso como plantas fitoterápicas, que é recorrida em caso de sintomas de algumas doenças. Segundo um membro da família, ele aprendeu com seus ancestrais as formas de lidar com a terra e plantas medicinais, sendo assim, ele traz consigo muitos conhecimentos e costumes de seus antepassados. Para Caporal e Costabeber:
[...] é preciso reconhecer que entre os agricultores e suas famílias existem um saber, um conjunto de conhecimento que, embora não sendo de natureza cientifica é tão importante quanto os mesmos saberes. Ao mesmo tempo em que deve ser respeitosa para com os saberes dos demais – deve ser capaz de contribuir para a integração destes diferentes saberes, buscando a construção social do conhecimento adequado para o desenvolvimento dos potenciais agrícolas de cada agroecossistemas e dos potenciaisA família está bem integrada com o povoado, participam dos processos coletivos da comunidade, portanto, são considerados líderes da comunidade local. Participam de várias manifestações religiosas e culturais dentro da comunidade como o Caruru, Festa de Reis, padroeiro São Francisco e Festas Juninas, esta última além do fator religioso envolve a celebração da colheita e produção do ano.
      Foto: Silvino Lopes

As mulheres da família participam de todos processos de produção e cultivo na propriedade, além de serem lideranças na comunidade e contribuírem ativamente na renda familiar. O comércio de leite e o gado de corte, são as principais fontes de renda da família Ribeiro, mas boa parte da produção serve para o próprio consumo. Outra parte da produção também é dividida com os vizinhos da comunidade, o que denota uma outra cultura, a da partilha.

    Foto: Silvino Lopes

    Foto: Silvino Lopes

Conclusão

A transição do modo de produção/vida da família para o agroecológico contribuiu para a resiliência do processo de produção agrícola, e consequentemente da soberania alimentar da família pesquisada, além do ganho social e autonomia que é proporcionado pelas interações que a agroecologia proporciona.
Em suma, o desafio consiste em mudar a relação sociedade e recursos naturais, o que exige simultaneamente o desenvolvimento sustentável, assumindo a agroecologia como principal “modelo agrícola” nessa transformação, nessa conjuntura, a agricultura familiar camponesa torna-se relevante, bem como é nessas pequenas ilhas de agricultura tradicional que encontra-se uma grande variedade genéticas de sementes, técnicas de manejo de solo adaptadas ao ecossistema e uma maior resistência as intempéries e desequilíbrios ambientais. Dentro desse contexto é importante salientar a contribuição da mulher para afirmação dessas práticas agrícolas dentro da família.

Referências

ALTIERI, Miguel. Agroecologia: bases cientificas para uma agricultura sustentável. 3 ed. São Paulo: Expressão popular, 2016.
BRASIL, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo agropecuário 2006.IBGE, 2016. Disponível em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang =&codmun=292040&idtema=3&search=bahia|manoel-vitorino|censo-agropecuario-2006>. Acesso em: 14 de março de 2017.
CAPORAL, Francisco Roberto; COSTABEBER, José Antônio. Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável: Perspectivas para uma Nova Extensão Rural. Vol. 1. Porto Alegre: 2000.
SILVA, Marx Leandro Naves. Manejo do solo em sistemas agroecológicos de produção. In: SILVA, Marx Leandro Naves, FREITAS, Diego Antônio França de, CÂNDIDO, Bernado Moreira. Curso da